Apometria não convém às Casas Espíritas? – 2

Gebaldo José de Sousa e Jeziel Silva Ramos *

“É necessário preservar o Espiritismo conforme o herdamos do eminente Codificador, mantendo-lhe a claridade dos postulados, a limpidez dos seus conteúdos, não permitindo que se lhe instale adenda perniciosa, que somente irá confundir os incautos e os menos conhecedores das suas diretrizes.” Bezerra de Menezes/Divaldo P. Franco – Reformador/Dezembro 2003, p. 446.

Os apômetras adotam terminologias diversas daquelas utilizadas pela Doutrina Espírita e conceitos de crenças orientais. Além disso, certas afirmações deles colidem com a razão:

a) – O perdão quase instantâneo, por parte de adversários seculares, após serem submetidos à técnica;

b) – A incorporação de ‘vários corpos’, de uma só personalidade, encarnada, ou não, em vários médiuns, com doutrinação simultânea, nas ‘manifestações desses corpos’!

Para justificar o primeiro item, afirmam que, pela técnica do desdobramento e o uso de pulsos de energia, a entidade espiritual sofredora e vingativa é transportada no tempo, ao passado e ao futuro, perdoando em poucos segundos, esquecendo o ódio de séculos ou milênios, contrariando a própria natureza humana e a necessidade de reforma íntima! E preconiza esse resultado em todos os casos!

Em contraposição a esses conceitos, consultemos algumas obras de fontes seguras.

Ao final dos livros “Instruções Psicofônicas” e “Vozes do Grande Além”, de mensagens recebidas por Francisco C. Xavier, em trabalhos de desobsessão, nos anos de 1952 a 1956, em Pedro Leopoldo, há boletins anuais, com estatísticas dos atendimentos, aos quais remetemos o leitor, onde se vê que é muito pequeno o percentual de recuperação plena.

E lembrem-se de que estes trabalhos mediúnicos contavam com a presença do maior médium da história da Humanidade – Francisco Cândido Xavier!

Manoel P. de Miranda/Divaldo, em “Loucura e Obsessão”, afirma à página 14:

“A cura das obsessões, conforme ocorre no caso da loucu- ra, é de difícil curso e nem sempre rápida, estando a depen- der de múltiplos fatores, especialmente, da renovação, para melhor, do paciente (…). (Grifo nosso).

Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. 28, item 84, diz:

“Observação. – A cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança e devotamento.”

Albino Teixeira/Francisco C. Xavier, em “Paz e Renovação”, indaga, no capítulo 48 (Obsessão e Cura), à p. 135:

“Em qualquer progresso ou desenvolvimento de aquisições do mundo, nada se obtém sem paciência, amor, educação e serviço; como quereis, meus irmãos da Terra, que a obsessão – que é freqüentemente desequilíbrio cronificado da alma, – venha a desaparecer sem paciência, amor, educação e serviço, de um dia para o outro?” (Sublinhamos)

Bastam estas citações, eminentemente doutrinárias, para saber que a cura das obsessões não se faz com um toque de mágica, de uma hora para outra. É também o que nos revela a experiência.

Nossa razão não aceita tanta facilidade – eis que não admite seja possível transformação tão rápida em Espíritos que cultivam o ódio tão intensamente.

Quanto ao item b, pelo inusitado da proposta e para não nos alongarmos ainda mais, deixamos que cada um avalie por si mesmo!

2) MANIFESTAÇÕES DE RESPEITÁVEL ESPÍRITO E DE MÉDIUNS.

2.1) Francisco Cândido Xavier relata orientações recebidas de Emmanuel, seu mentor:

“Lembro-me de que num dos primeiros contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e disse mais que, se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo.” (Chico Xavier: Mediunidade e Coração, de Carlos A. Baccelli, Editora IDEAL, 1985, p. 12/3: Emmanuel e Duas Orientações para o Resto da Vida).

2.2) Divaldo Pereira Franco, durante uma larga entrevista, no programa Presença Espírita da Rádio Boa Nova, de Guarulhos (SP), em Agosto/2001, a partir de uma pergunta a ele dirigida, afirma:

“Não irei entrar no mérito nem no estudo da apometria porque eu não sou apômetra, eu sou espírita. O que posso dizer é que a apometria, segundo os apômetras, não é Espiritismo, porquanto as suas práticas estão em total desacordo com as recomendações de “O Livro dos Médiuns”. (Grifamos)

Não examinaremos aqui o mérito ou demérito porque eu não pratico a apometria, mas, segundo os livros que têm sido publicados, a apometria, segundo a presunção de alguns, é um passo avançado do Movimento Espírita no qual Allan Kardec estaria ultrapassado.

Allan Kardec foi a proposta para o século XIX e para parte do século XX e a apometria é o degrau mais evoluído, no qual Allan Kardec encontra-se totalmente ultrapassado.

Tese com a qual, na condição de espírita, eu não concordo em absoluto.

Na prática e nos métodos de libertação dos obsessores, a violência que ditos métodos apresentam, a mim pessoalmente – me parece tão chocante que faz recordar-me da lei de Talião, que Moisés suavizou com o código legal e que Jesus sublimou através do amor. (…)

Tenho certeza de que aqueles que adotam esses métodos novos, primeiro, não conhecem as bases Kardequianas, e, ao conhecerem-nas, nunca as vivenciaram para terem certeza.

Então, se alguém prefere a apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito! Mas não misture, para não confundir. (…)

Não temos nada contra a apometria, as correntes mento-magnéticas, aquelas outras de nomes muito esdrúxulos e pseudocientíficos. Mas como espíritas, nós deveremos cuidar da proposta espírita. (Destacamos)

(…) Não entrarei no mérito dos métodos, que são bastante chocantes para a nossa mentalidade espírita, que não admite ritual, gestual, gritaria, nem determinados comportamentos, porque a única força é aquela que vem de dentro – a moral. “Para esta classe de espíritos são necessários jejum e oração.” – disse Jesus. Jornal virtual “A Jornada” (www.ajornada.hpg.ig.com.br/doutrina/mat-0030a.htm)

2.3) – O Dr. Ricardo Di Bernardi – que é inteiramente favorável à correta utilização do método apométrico e defende o aprofundamento do estudo -, admite falhas nessa prática e fala em umbandização da Doutrina Espírita:

“Com todo respeito aos nossos “primos” umbandistas, que executam trabalho sério e útil, faz-se necessário definir algumas fronteiras que devem ser tão nítidas quanto fraternas. Não há porque criarmos grupos de umbanda técnico-científica nas casas espíritas. Ao invés do clássico e necessário “DIÁLOGO COM AS SOMBRAS” tão preconizado por Hermínio de Miranda, passamos a ouvir o contínuo estalar de dedos, seguido, de verdadeiras expulsões dos espíritos obsessores ou simplesmente sofredores.

O diálogo construtivo e fraterno passou a ser considerado peça de museu. Ao invés de amor e filosofia, muita sonoridade e gesticulação espalhafatosa, sob o argumento de que som serve de veículo para a energia. Então, bater palmas e gritar alto seria tão útil quanto mais ruidosos forem… Naturalmente, o impacto energético seria cada vez mais produtivo quanto mais escandalosa for a sessão… É necessário que acordemos para que logo não estejamos admitindo outras atitudes materiais e periféricas totalmente incompatíveis com nossa filosofia. O trabalho espiritual é, acima de tudo, mental. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: equilíbrio… (…)

Obsessores retirados do campo mental do obsediado “a fortiori” e enviados a “outros planetas” ou a estranhos locais ou dimensões extra-físicas, talvez merecessem uma atenção mais adequada.

A ausência de diálogo com espíritos enfermos, em certos casos, apenas determinará a mudança de endereço dos obsessores, bem como a admissão de novos inquilinos na casa mental desocupada do obsediado. (…)

Faz-se necessário recolocarmos a filosofia espírita, o amor e a seriedade nos trabalhos mediúnicos e não umbandizarmos a doutrina espírita, nem brincarmos irresponsavelmente com animadas técnicas.”

– Artigo “Apometria: Nem problema, nem solução” www.ipepe.com.br/apometria.html

* Jeziel Silva Ramos – Médico e Presidente do Hospital Espírita Eurípedes Barsanulfo, em Goiânia (GO).