Há algo mais… Um amor. Uma luz. – lXVII*

Desperto fora do corpo num ambiente extrafísico sobre o Japão.

Estou bem lúcido e flutuo alguns metros acima do palco de uma espécie de teatro.

O lugar está cheio de pessoas sentadas e quietas. Algumas estão rezando.

Sei, por intuição, que todos ali estão desencarnados e com problemas de adptação à sua passagem final. Também sei que há alguns deles ainda remanescentes da tragédia de Fukushima, traumatizados pelo violento tsunami.

Ninguém ali está sofrendo com dores ou problemas energéticos. Não, o problema deles é psicológico: trata-se do velho apego às formas, pessoas, culturas e lugares.

Muitos deles choram de saudade dos familiares que ficaram na Terra; outros cantam sutras aos seus ancestrais. E outros mais se sentem deslocados e solitários.

O ambiente do imenso teatro é agradável. Suas paredes claras exalam um clima psíquico leve e sadio. E todos ali sabem que estão desencarnados, mas permanecem sentados como se fossem encarnados e num ambiente humano convencional.

Em dado momento, percebo um Ser de Luz alugns metros acima de mim. Ele não apresenta forma humanóide, mais parece um grande fulcro luminoso. Sinto, vindo dele, uma emanação de algo que defino como uma mistura de pensamento-sentimento-energia integrados numa serenidade amorosa e contente.

Por intuição, sei que fui levado extrafisicamente por ele até ali. E sei que é para um trabalho de esclarecimento e assistência espiritual. Sei, também, que há algo mais nisso, mas desconheço os motivos. No entanto, confio na Luz e sei que tudo ali é positivo e baseado no Amor e na Ética Universal.

O público presente não me vê flutuando ali por cima, e nem ao Ser de Luz.

Então, entra no palco um senhor japonês calvo, desencarnado, com aparência de uns sessenta anos de idade, vestido sobriamente de terno marron. Ele está de óculos e carrega um livro embaixo do braço. Sua atmosfera espiritual é tranquila e bondosa.

Sei que ele é um homem ligado às coisas do Budismo e têm experiência em lidar com desencarnados apegados à Terra. Parece-me que ele trabalha há muito tempo nessa tarefa e parte do público ali presente já o conhece.

Ele começa a falar com o pessoal, como numa palestra, de maneira carinhosa e educada. Explica a eles que é necessário passar para outros planos de manifestação e que a vida segue… E também fala de um Grande Amor que está em tudo. Cita alguns ensinamentos de Buda e brinca, dizendo que todos ali são pequenos Bodhisattvas, apenas estando esquecidos de si mesmos e da Grande Compaixão.

Eu observo tudo quietinho e sinto imediatamente um carinho enorme por esse homem que está ali tentando ajudar o pessoal a passar para a Luz. E também noto que o Ser de Luz está inspirando-o secretamente e dando-lhe o suporte energético necessário para tal tarefa.

Então, o inesperado acontece: ele olha para cima, me vê e me chama pelo meu nome. E todos no teatro também olham para cima e me veem, com certo susto. E eu sinto uma força invisível impulsionando-me suavemente para baixo, até o palco.

Pouso suavemente e aperto a mão do homem. De alguma forma intuitiva, eu sei o que fazer e porque estou ali. Viro de frente para o público e saúdo a todos.

Nisso, o homem me diz, telepaticamente:

“Fale com eles com a mesma comunicação de um encarnado. No atual estado de baixa lucidez em que estão, eles não entenderiam a comunicação telepática. Fale normalmente, pois estamos num plano denso, adjacente à crosta japonesa, no duplo extrafísico de um ambiente budista voltado para a ajuda espiritual aos desencarnados presos à Terra.

Eu disse a eles que você veio do Brasil e que está fora do seu corpo** nos ajudando aqui. Falei que você é médium e está acostumado com essas atividades extrafísicas em seu país. E também lhes disse que há um Ser de Luz acima de você e que Ele garantiria a passagem deles para a Grande Luz. Portanto, meu irmão brasileiro, faça o que você sabe fazer e nos ajude com as lindas energias espirituais do Brasil.

Ah, eu também disse a eles que você gosta muito das coisas do Japão e que têm um cachorrinho que foi presente dos Budas.

Hoje, é necessário que os nossos irmãos tristes sejam confortados por uma energia diferente das que têm por aqui. E por isso você foi trazido até aqui pelo Ser de Luz. Então, meu irmão, deixe o seu coração falar e, mais uma vez, seja bem-vindo à Terra do Sol Nascente.”

Daí ele se afasta e fica quietinho num canto, cantando alguns sutras.

E eu, ali de frente com aquelas centenas de desencarnados japoneses em silêncio e esperando algo acontecer, deixo o meu coração falar… E lhes digo que ninguém morre, é só o espírito que entra e sai dos corpos perecíveis. Também falo*** que todos nós somos irmãos e que, mais do que japoneses ou brasileiros, nós somos cidadãos do universo.

Digo que estar ali é uma honra e que têm muita gente esperando por eles do “lado de lá”, e que a vida seguirá, como sempre faz…

Então, uma coluna de Luz desce sobre minha cabeça e eu não sei mais o que dizer. Apenas deixo-a passar por mim… Pois sei que é a emanação superior do Ser de Luz propagando-se para eles. No meio dessa Luz-Amor-Serenidade, percebo que todos estão sendo comunicados espiritualmente que é chegada a hora de partir e que eles serão felizes novamente. Ah, que honra ver algo assim, em Espírito e Verdade.

Gradualmente, o ambiente do teatro é banhado totalmente por uma Luz rosada. E também sinto um agradável cheio de flores no ar. E sinto que a resistência deles é quebrada por aquela energia amorosa, que nada julga e os compreende totalmente.

E, nesse momento, ocorre outra coisa inesperada: todas as pessoas dali ficam de pé e abrem as mãos e começam a cantar alguns sutras. E eu sei que elas estão vendo os seus entes queridos esperando-as do “lado de lá”. Algumas choram, outras riem, mas todas ficam eufóricas com suas visões.

Ou melhor, quase todas. Porque, em pé, à frente e à minha esquerda, está um menino japonês de uns cinco anos de idade. Está vestido de calça comprida marron e uma camisa listrada. E ele me olha firmemente, como à espera de algo.

Olho para ele e sinto algo diferente em mim. Ele não está tendo uma visão, e o seu foco de atenção sou eu. Então, ele me surpreende e me diz:

“Me leva para o Brasil! Me leva com você!”

Olho para ele e sinto a compaixão descendo do Ser de Luz sobre mim.

Vou até ele e o abraço. O menino chora e me diz novamente: “Me leva com você!”

A essa altura, noto que todos no teatro estão olhando para nós dois, eu e o menino abraçados ali. E muitos deles se emocionam e começam a bater palmas.

Eu digo para o menino: “Se pudesse, eu o levaria comigo. Eu cuidaria de você. E seria uma honra recebê-lo. Mas eu já sou um cinquentão na matéria e nem sei quanto tempo eu tenho pela frente. Sim, eu cuidaria de você, como um filho. De toda forma, quem sabe se, mais à frente, você reencarna no Brasil, e como filho de alguém próximo a mim? Tudo é possível e eu o reconheceria na hora. E, assim, nós poderíamos conviver por um tempo de vida. Por agora, entre na Luz e siga em frente…”

Novamente a coluna luminosa desce sobre minha cabeca e envolve a nós dois abraçados. E, lentamente, eu vou flutuando com o menino nos meus braços e perdendo a lucidez no meio da Luz rosada suave…

Em seguida, sinto-me caindo de grande altura e me fundindo com o meu corpo físico, com aquele clássico solavanco que todo projetor extrafísico reconhece. Imediatamente, sento-me na cama e repasso mentalmente tudo o que aconteceu.

Está tudo bem claro na minha mente e o meu coração está cheio daquela Luz que não é desse mundo. E, ainda sentado na cama, no escurinho do quarto, no meio da madrugada fria e silenciosa, eu faço uma prece na intenção daqueles irmãos japoneses, para que eles sejam felizes novamente… Enquanto isso, as lágrimas de agradecimento rolam pelo meu rosto, lavando o meu Ser nas ondas de um Grande Amor.

Lembro-me do Ser de Luz, do senhor budista no palco e das pessoas dali. Mas, o que não me sai da mente é o olhar do menino japonês. É como se o coração dele viesse junto comigo. Então, sou surpreendido por um toque no meu joelho direito.

E, aí, eu o vejo juntinho de mim. E o Rama, o meu parceirinho****, que está deitado na cama comigo, também o vê, pois olha para ele fixamente. E ele me diz:

“O Ser de Luz me disse que eu vou voltar em breve, e será no Brasil. Por favor, me espere. Seria uma honra ter você por perto. O Ser de Luz me disse que providenciará tudo. E Ele também me disse para agradecê-lo pela ajuda, e que conta com você para outros trabalhos. E que os Budas abençoam sua jornada.”

Após me dizer isso, ele faz um gesto de despedida e eu deixo de vê-lo.

Levanto-me e vou até a sala do apartamento. Olho para fora e vejo a noite fria da grande metrópole cinzenta onde o Grande Arquiteto Do Universo me colocou para viver, aprender e trabalhar. Ainda estou sob o impacto psíquico dessa vivência no Astral do Japão. E a energia do Ser de Luz continua comigo. E a daquele senhor budista também. Mas só penso no menino.

Há algo mais… Um Amor. Uma Luz.

 

P.S.:

Ah, eu trabalho com isso há tantos anos e sempre sou surpreendido pela Espiritualidade. E, cada vez mais, me sinto como uma criança diante do infinito…

Quantas madrugadas silenciosas testemunharam o meu choro depois de um trabalho de assistência extrafísica…

Quantas vezes eu vi o Amor descendo secretamente sobre o mundo dos homens tristes e sem coragem…

Quantas vezes eu vi os Seres de Luz agindo nos bastidores do mundo, para o Bem de todos…

Quantas vezes eu vi e participei da passagem de espíritos para o “lado de lá”…

         Quantas vezes eu retornei para o corpo físico com aquela alegria que não é desse mundo…

         Quantas vezes eu fui levado para assistir algo e depois escrever sobre diversos lances extrafisicos, para o esclareciemento de outros estudantes das coisas do espírito…

         Quantas vezes eu senti algo e não consegui escrever, pois as palavras sumiram nas ondas de um Grande Amor…

         Quantas vezes eu escrevi que têm coisas que não se explicam, só se sentem…

         Ah, quantas vezes o meu coração disse: “Há algo mais… Um Amor. Uma Luz”…

 

         Paz e Luz.

         E Gratidão.

 

         – Wagner Borges – mestre de nada e discípulo de coisa alguma.

         São Paulo, 30 de maio de 2014.

 

         – Notas:

         * Esse texto fará parte de um novo livro sobre vida após a morte que publicarei daqui a alguns meses (com diversos textos alusivos à temática da imortalidade da consciência).

         ** Projeção da consciência – é a capacidade parapsíquica – inerente a todas as criaturas -, que consiste na projeção da consciência para fora de seu corpo físico.

Sinonímias: Viagem astral – Ocultismo.

Projeção astral – Teosofia.

Projeção do corpo psíquico – Ordem Rosacruz.

Experiência fora do corpo – Parapsicologia.

Viagem da alma – Eckancar.

Viagem espiritual – Espiritualismo.

Viagem fora do corpo – Diversos projetores extrafísicos e autores.

Emancipação da alma (ou desprendimento espiritual) – Espiritismo.

Arrebatamento espiritual – autores cristãos.

         *** Eu não sei falar japonês, mas, de alguma forma, todos ali me entendiam, como se eu estivesse falando no idioma deles. Como eu estava projetado num nível denso do plano extrafísico, concomitante ao duplo etérico da Terra, não rolava  a comunicação telepática normal de alguém fora do corpo, era como se eu estivesse no plano físico conversando mesmo.

         **** Rama é um cãozinho da raça Yorkshire Terrier, de cor escura mesclada com tons claros, atualmente com cinco anos de idade.

         Obs.: Enquanto eu passava esses escritos a limpo, sei lá porque, lembrei-me de um texto inspirado pelo Grupo dos Iniciados. Então posto o mesmo na sequência (talvez o mesmo acrescente algo a esse texto de hoje).