Em muitas tradições, Deus é representado por uma circunferência, um símbolo sem início nem fim. O uroboros⁰¹, o Tao⁰² e a roda de Samsara⁰³ são manifestações desse conceito universal. De fato, somos um círculo dentro de um círculo: nossa casa cósmica tem um formato circular, e todos os processos que criam, preservam e transformam a vida na Terra seguem esse padrão.
O Sol, a grande esfera vital, impulsiona todos os ciclos da existência. Nossos olhos são círculos que dão forma à experiência humana. Os povos nativos constroem suas habitações em forma circular, como os Yanomami do Amazonas e de Roraima, que chamam suas aldeias de “shabonos”. A arquitetura ancestral desses povos é profundamente integrada à grande esfera que nos acolhe: o planeta Terra. No entanto, a modernidade nos enclausurou em estruturas quadradas, alienadas, individualistas, que contradizem o fluxo natural e sutil das conexões humanas.
Vivemos em caixas de concreto, absorvendo frieza, tristeza e solidão. Passamos horas imersos em uma tela retangular chamada celular, mergulhados em redes “antissociais”, que aproximam os distantes e afastam os próximos. Com pressa e sem tempo, realizamos sonhos alheios enquanto nos afastamos do nosso verdadeiro propósito: a evolução e a felicidade. A espiritualidade surge como um resgate dessa conexão perdida. Mas não uma espiritualidade dogmática, limitada por fronteiras; e sim uma espiritualidade livre, circular, que liberta a consciência para voar. E, quanto mais alto voamos, melhor compreendemos a harmonia dessa grande circunferência que chamamos de Terra. Sim, a Terra é redonda.
Nossos laços são círculos: de amizade, de interesses, de hábitos viciosos ou virtuosos. Até os ciclos da vida são circunferências. Desde o início da vida, a forma circular nos acompanha. O cordão umbilical, essa ponte energética e física que nos conecta à mãe, é o primeiro círculo vital que nos sustenta. Ele nos nutre, nos dá a primeira experiência de interconexão e interdependência, sendo a própria manifestação da continuidade e da fluidez da existência.
Quando nascemos, esse elo é rompido fisicamente, mas sua marca permanece para sempre em nosso corpo: o umbigo. Esse pequeno círculo em nosso ventre simboliza a lembrança do nosso primeiro vínculo, um sinal eterno da conexão com a vida, com a ancestralidade e com a teia universal da qual todos fazemos parte.
O umbigo não é apenas uma cicatriz biológica, mas um símbolo profundo da interligação de todas as coisas. Em muitas tradições espirituais, ele é considerado um ponto energético poderoso, o centro do Hara na filosofia oriental, um ponto de força vital no corpo humano. A circunferência do umbigo é a primeira lembrança de que viemos de algo maior, e que carregamos em nós o próprio ciclo da criação.
Assim, desde o ventre materno até o último ciclo de nossa existência, somos rodeados por círculos sagrados que nos recordam da eterna dança do recomeço.
Os chakras são rodas luminosas que captam, circulam e exteriorizam a energia vital. Eles são grandes círculos, verdadeiros portais que possibilitam a conexão entre o corpo astral e o corpo físico. Possuímos sete chakras principais distribuídos ao longo do corpo. Na realidade, os chakras estão localizados em um campo sutil denominado duplo etérico, que atua como um elo, uma espécie de ponte energética que une o corpo físico ao astral. Além desses sete principais, também temos chakras nas mãos e diversos outros pontos energéticos, formando um sistema complexo de milhares de esferas luminosas que permeiam nosso corpo de luz.
Tudo começa onde termina. No Tarô, o Arcano 0, O Louco, simboliza um ciclo que inicia, mas nunca se encerra. A iniciação espiritual é um portal que circunda esta busca eterna.
“A vida vai, a vida vem, o tempo passa por nós e a gente nem vê que vai também.”
Ao observarmos o ciclo das reencarnações, descobrimos um padrão de aprendizado, onde a consciência experimenta diversos eventos e, a partir deles, expande-se, assim como o próprio universo. Uma eterna dança de expansão. Estamos imersos no universo e fazemos parte dele. O átomo, base da matéria, é composto por um núcleo e uma eletrosfera⁰⁴; dentro de nós, há múltiplas esferas em interação constante.
A barriga de Ganesha, deus Hindu filho de Shiva, contém infinitos universos. Ela simboliza a benevolência da natureza e sua equanimidade, bem como a capacidade de Ganesha de absorver os sofrimentos do mundo. Um de seus epítetos é Lambodara, que significa “aquele de grande barriga” ou “barriga abundante”. No livro Loving Gaṇeśa, Satguru Sivaya Subramuniyaswami afirma:
“Lambodara tem este mundo e todos os bilhões de galáxias dentro de sua barriga abundante. Todos os universos conhecidos e desconhecidos estão contidos dentro de sua circunferência prodigiosa.”
O mantra Oṁ lambodarāya namaḥ está associado a essa energia.
Satguru Sivaya Subramuniyaswami reforça:
“Isso significa que você sente que é este universo. Isso significa que todos os universos estão dentro de você. Assim como uma árvore inteira está na semente, todo o universo está no som da criação.”
Lambodara representa a luz vital circular que ilumina o universo, vibrando em todas as partículas visíveis e invisíveis, tanto físicas quanto metafísicas. O mantra Om é a expressão da circunferência infinita, que não tem início nem fim, pois está em constante expansão. Ele representa a vibração primordial, o som do silêncio.
Oṁ lambodarāya namaḥ evoca o silêncio da grande luz circular presente na egrégora de Ganesha. Essa força é capaz de transmutar qualquer escuridão, sendo a luz suprema do Pai/Mãe cósmico verdadeiro.
Oṁ lambodarāya namaḥ
Diego Roque 24.02.2025
⁰¹ Uroboros: Antigo símbolo representado por uma serpente que engole a própria cauda, simbolizando a eternidade e o ciclo infinito de renascimento.
⁰² Tao: Princípio filosófico chinês que representa a harmonia do universo e a interconexão de todas as coisas.
⁰³ Roda de Samsara: Conceito do hinduísmo e do budismo que representa o ciclo de nascimento, morte e renascimento.
⁰⁴ Eletrosfera: Região ao redor do núcleo atômico onde os elétrons orbitam, formando uma estrutura esferoidal.
Te convido a relizar uma prática energética na Luz de Ganesha: