PERGUNTA: Por acaso é criticável, quando, ao julgamento social do mundo, orientado para um sentido ético e moral dos valores nobres da vida, haja essa separação algo afrontosa de “mulher honesta” e de “mulher prostituída”?
RAMATÍS: Ambas foram criadas a fim de servirem como o vaso sublime da vida física e, tanto quanto possível, progredir incessantemente pela libertação dos grilhões da vida animal inferior. No entanto, a proverbial hipocrisia masculina, que vê na mulher tão somente um objeto de prazer sexual, facilmente envolve a moça ingênua, inexperiente ou acicatada pelo seu indecifrável impulso erótico, ou a estigmatizada perante a sociedade sofisticada e farisaica, na figura desprezada da “mãe solteira”, ou de um repasto sem problemas, das célebres garotas-de-programas. Inúmeras vezes, a jovem desperta e avalia a sua situação, doravante alvo específico da concupiscência masculina, enfrentando as mais chocantes dificuldades, quando pretende, heroicamente, amparar e criar o fruto do seu suposto pecado sem a possibilidade de manter-se no emprego, em face do contrapeso indesejável do filho. E, não raras vezes, as manchetes escandalosas dos jornais noticiam na gelidez do noticiário sensacionalista, o infanticídio da “mãe desnaturada” que não quis criar o fruto dos seus amores clandestinos ou, quando possível, o aborto nas mãos perigosas da primeira fazedora-de anjos, ou ainda, o tresloucado suicídio, ante o estigma infamante de prostituta. No entanto, várias criaturas que destilam veneno pelos lábios pérfidos, ultrajando a infeliz cobaia do homem fescenino, mal dominando as suas taras compensadas na intimidade “oficial” do lar, julgam-se de um comportamento irrepreensível, confundindo a bênção do casamento depois da queda do noivado, com virtude impoluta.
PERGUNTA: — É de senso comum, entre psicólogos e sociólogos, que a base fundamental da prostituição feminina prende-se a causas econômicas.
RAMATÍS: O pretexto específico da ignominiosa prostituição da mulher, criada para a santificada função de “médium da vida”, não decorre, exclusivamente, de motivos econômicos ou condições financeiras. Infelizmente, há diversos fatores que contribuem para a prostituição: ignorância, inexperiência, desespero, frustração, abandono, difícil sobrevivência e, mesmo, tendência erótica ou ninfomaníaca, são produtos do maior crime cometido pelo homem — a falta de amor.
O homem terrícola ainda é um ser primário, transudando reações trogloditas à superfície do corpo coberto de farrapos ou por um terno de casimira importado. Continua o mesmo para as satisfações instintivas, malgrado disso resultem prejuízos e cicatrizes ao próximo. Raramente se aproxima da mulher sem que, sob o sorriso melífluo, não vibre o desejo sensual e, se possível, inicia a trama sofisticada da posse carnal. Envolve a mulher num campo de vibrações fesceninas, ajustando-se falsamente aos sentimentos, tendências e sonhos da presa, em perigosa hipnose, até cair na teia do “conquistador”. É a procura da satisfação sexual a qualquer custo, ficando o prejuízo quase todo para a mulher, que no jogo amoroso perde fragorosamente pela sua vulnerabilidade emotiva e sensível, cabendo ao homem o menor prejuízo e a menor responsabilidade. A própria lei do mundo favorece-o de qualquer forma, contando com mil recursos, mesmo jurídicos, falso testemunho, ou ameaça clamorosa sobre a mente feminina atemorizada. Preocupado e incomodado por pouco tempo, logo volta a se tornar vezeiro noutra aventura, com nova vítima visualizada. Evidentemente, é a falta de amor do homem pela felicidade da mulher, sendo cobiçoso, falso nas promessas, pouco se importando com os problemas, a infelicidade e as dificuldades da jovem sacrificada à sua sanha lasciva, que é realmente a responsável pela, crescente infelicidade das moças despreparadas para distinguir, de imediato, a malícia masculina da amizade, o desejo sexual do carinho puro ou a procura da amante e não da esposa.
Quando reconhecer que a mulher é, acima de tudo, o espelho da irmã, esposa, filha e mãe, em vez da conduta desrespeitosa de visualizar toda mulher como objeto de prazer e satisfação instintiva, e reconhecer-lhe a preciosa função de vaso vivo para perpetuação da espécie, à qual, também, deve sua vida, e deve acima da cobiça e da lubricidade manifestar amor, a prostituição diminuirá.
DO LIVRO: “SOB A LUZ DO ESPIRITISMO” RAMATÍS/HERCÍLIO MAES – EDITORA DO CONHECIMENTO.