– Por Rumi –
Pudesse a árvore vagar
E mover-se com pés e asas,
Não sofreria os golpes do machado
Nem a dor de ser cortada.
Não errasse o sol por toda a noite,
Como poderia ser o mundo iluminado
A cada nova manhã?
E se a água do mar não subisse ao céu,
Como cresceriam as plantas
Regadas pela chuva e pelos rios?
A gota que deixou seu lar, o oceano,
E a ele depois retornou,
Encontrou a ostra à sua espera
E nela se fez pérola.
Não deixou José seu pai
Em lágrimas, pesar e desespero,
Ao partir em viagem para alcançar
O reinado e a fortuna?
Não viajou o Profeta
Para a distante Medina
Onde encontrou novo reino
E centenas de povos para governar?
Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
E reflete, como a mina de rubis ,
Os raios de sol para fora de ti.
A viagem te conduzirá a teu ser,
Transmutará teu pó em ouro puro.
Ainda que a água salgada
Faça nascer mil espécies de frutos,
Abandona todo amargor e acidez
E guia-te apenas pela doçura.
É o Sol de Tabriz que opera todos os milagres:
Toda árvore ganha beleza
Quando tocada pelo sol.
(Texto extraído do inspirado livro “Poemas Místicos”, de Jalad ud-Din Rumi, maravilhoso poeta sufi que viveu no Afeganistão do século XIII – Editora Attar).