O MENINO JESUS, GENIAL E FRANCO!

PERGUNTA: — Naturalmente, a passividade materna de Maria não só ajudou Jesus a crescer emancipado pelas suas próprias idéias, como também a desvencilhar-se mais cedo dos laços afetivos e sentimentalismos da parentela do mundo. Não é assim?

RAMATÍS: — Realmente, havia sido combinado no Espaço, entre os participantes mais íntimos da missão de Jesus, que ele teria de despertar suas próprias forças espirituais e sentimentos angélicos na carne, livre de quaisquer influências educativas alheias. Todavia, ser-lhe-ia proporcionado um ambiente familiar pacífico, compreensivo e seguro, para não lhe perturbar a infância.
Em face da contextura espiritual superior de Jesus, os apóstolos e cooperadores de sua obra messiânica ainda eram incapacitados para traçar-lhe diretrizes melhores das que ele já planejara no imo de sua alma.
Por isso, dispensou qualquer método disciplinador ou guia humano, que devesse orientá-lo no mundo durante os 33 anos de sua vida física.
Os seus Anjos Tutelares sempre o desviaram de quaisquer empreendimentos ou gloríolas profanas, embora dignas e meritórias, mas capazes de algemá-lo às preocupações escravizantes da vida humana!

PERGUNTA: — Embora considerando-se a modéstia intelectual de Maria e o senso prático de José, não lhes teria sido possível perceberem a diferença da natureza espiritual incomum de Jesus, sobre os demais filhos? E isso não os faria se considerar mais venturosos?

RAMATÍS: — Nem sempre os rasgos de genialidade e os arroubos extraordinários dos filhos incomüns são motivos de ventura para os pais.
Às vezes confundem arrebatamentos de sabedoria com excentricidades inexplicáveis.
O certo é que Jesus, embora fosse ‘um menino dócil, respeitoso e algo tímido, era um Espírito de estirpe sideral muito acima do mais alto índice de inteligência e capacidade do homem terreno. Por isso, mesmo ao período de sua infância, ele não se submetia aos padrões e preconceitos comuns da época, porque suas reações mentais e emotivas ultrapassavam as convenções comuns e o provincianismo do povo judeu.
Ele não só causava espanto, mas até constrangimento entre os próprios companheiros de folguedos e as pessoas adultas, pois expunha idéias e conceitos bem mais avançados que o comum em seu tempo.
Em sua maneira pessoal de interpretar ou julgar as coisas de sua terra e de seu povo, o menino Jesus tinha respostas agudas e inteligentes, porém, honesto no seu falar e jamais contemporizando com a malícia, capciosidade, hipocrisia ou perversidade.
Não era ofensivo, nem petulante; respondia a todos com singeleza, respeito e até com timidez; mas ninguém conseguia modificar-lhe o modo franco e sincero de dizer as coisas, pois era inimigo de evasivas, rodeios ou acomodações interesseiras.
Obediente ao seu inconfundível espírito de justiça, ele até seria contra a família e em favor do adversário, caso este tivesse razão! Afeiçoava-se facilmente a todos os seres e criaturas e os servia com o mesmo espírito de fraternidade e amor, pouco lhe importando a situação social ou humana.
No entanto, suas atitudes francas e corajosas punham em choque até o espírito compreensivo de seus pais e semeavam indecisões entre os rabinos da Sinagoga. Muitas vezes, os adultos ficavam confusos ante a solução inesperada, de um nível de justiça acima do entendimento comum, que o menino Jesus expunha em suas dissertações vivas e eloquentes. Semelhante situação confundia os seus familiares mais íntimos, ainda imaturos e incapazes de entenderem a fala do anjo e do sábio sideral, que não se disfarça sob as sutilezas capciosas e próprias dos homens empenhados na luta pelos interesses humanos!
O menino Jesus, genial e franco, jamais podia enquadrar-se no esquema prosaico da criança comum, cujas emoções e pensamentos são um reflexo dos costumes e preconceitos da sua época.
Evidentemente, Maria e José não podiam entrever naquele filho singular o fulgor e a tempera do Messias, quando ele causava críticas e despertava censuras alheias pelos seus modos excêntricos ou estranhos! Ambos ainda não estavam capacitados para compreenderem uma conceituação moral tão-pura e tão impessoal do ser humano, contrária às tradições seculares da vida do povo judeu!

RAMATÍS – O SUBLIME PEREGRINO – HERCÍLIO MAES – EDITORA DO CONHECIMENTO.

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