Quando alguém adquire sabedoria não deixa de ter todas as funções “reptilianas”. O instinto, as pulsões e reações límbicas, as funções autônomas do corpo continuam. Elas apenas não são mais o centro determinante das escolhas do indivíduo.
Ou seja, o sábio não perde nem “elimina” as funções pré-pessoais: ele as INCLUI, deslocando o centro do ‘eu’ para um nível de consciência maior (transpessoal). Todos os níveis de consciência, mesmo os primários, continuam tendo sua função. Num momento de luta, de reação rápida, até ao atravessar uma rua e ter reações ‘automáticas’ de defesa, seu cérebro reptiliano (pré-pessoal) assume o controle e salva sua vida.
No meio disso está o ego, o pensamento verbo-pensante ou nível “pessoal”, que está entre o PRÉ e o TRANSpessoal. Do mesmo modo, o sábio não “perde” seu ego, mas o transcende (adquirindo uma percepção transpessoal, espiritual) e o inclui em sua linha de desenvolvimento.
Quando se fala “ausência de ego”, a maioria das pessoas confundem com a ausência de um eu (self) funcional. Tal coisa seria própria de um psicótico e não de um sábio. Transcendência do ego significa tão somente que não estamos mais exclusivamente identificados com esse ego.
Na verdade, “sem ego” não significa “menos que uma pessoa”, mas pelo contrário, MAIS que ‘uma pessoa’: a adição de um nível transpessoal. O ego continua existindo, mas não mais como determinante exclusivo de todas as ações.
A identificação exclusiva com o ego seria narcisismo. A transcendência é um ego “identificado com algo maior”. Wilber explica: “grandes iogues, santos e sábios conseguiram tanto, exatamente porque não foram tímidos bajuladores, mas grandes egos ligados ao seu Eu superior, animados pelo puro Atman (o puro Eu-eu) que é um com O Todo. Transcender o ego não significa destruir o ego, mas, sim, conectá-lo a algo maior. O pequeno ego não se evapora; permanece como o centro funcional da atividade no domínio convencional. “Perder” esse ego significa tornar-se um psicótico, não um sábio”.
“Transcender o ego” significa incluir o ego num envolvimento mais profundo e mais elevado, no Eu superior. Não significa, portanto, “livrar-se” do pequeno ego, mas, ao contrário, usá-lo como veículo necessário, através do qual as grandes verdades podem ser descobertas e transmitidas. Alma e espírito incluem o corpo, as emoções e a mente; não os ‘eliminam’.