Por Lázaro Freire <https://www.facebook.com/groups/voadores/permalink/10158016982650129/>
O “neocatolicismo reencarnacionista brasiliano” (a.k.a. “kardecismo”) foi uma linda PONTE entre o cristianismo beato em que já estivemos e o espiritualismo universalista que almejamos. Sem esse neoespiritismo jamais estaríamos aqui. Sou muito grato a ele.
O problema é que tem gente que, em vez de atravessar e prosseguir, prefere se apegar e morar debaixo da ponte. E ainda cobrar pedágio dogmático-consciencial dos novos que tentam passar. Aí o que era para ser uma revelação progressista se torna apenas mais uma forma de neocrente fundamentalista, trocando o paraíso por nosso lar, o inferno pelo umbral, o pecado pelo carma, a homilia pela preleção, a Bíblia pelo evangelho segundo o espiritismo, o papa medieval por Divaldominion e a comunhão pelo passe – mas mantendo o moralismo barato (só para a vida alheia), a arrogância discriminatória, o batizado e casamento dos filhos na igreja católica (!!!) e até visitando “os mortos” no cemitério no dia de finados.
Notem inclusive que não é mais o espiritismo francês original – lavaram o druida universalista Allan Kardec na pia batismal da elite carioca de 1900 e beatas de Minas Gerais de 1950, mas acrescentaram vida após a morte e conceitos espirituais para que até a minha avó pudesse frequentar a mesa “branca”. Outro mérito, os médiuns oriundos da teosofia, ocultismo e umbanda aos poucos acrescentaram conceitos, fenômenos, técnicas que não havia em Kardec original. O espiritismo que conhecemos é um sincretismo tão brasileiro quanto a umbanda.
Tudo poderia ser harmônico nessa “ponte”, mas recentemente máscaras tem caído nos redutos mais [r̸e̸t̸r̸o̸g̸r̸a̸d̸o̸s̸] conservadores do espiritismo, aproximando-os em posição mais aos braços extremistas do catolicismo medieval (Opus Dei e outras minorias) do que ao papa atual; o que dirá ao pensamento espiritualista renovador e tolerante que encontra ecos no evangelho de Jesus. Deveríamos ler mais o Sermão da Montanha, que NUNCA foi TÃO atual quanto nesses tempos obscuros em que namoramos com a teocracia.
Melhor ser um bom católico sem culpas do que um “progressista ultrapassado” que inverte o fluxo e perverte o esforço dos que o precederam. Aí de vós, doutores da lei, que não entram no próprio céu que inventaram e condenam seus discípulos a infernos bem piores que os seus. Observando o que fazem com o Espiritismo hoje, entendemos enfim como as belas lições de Cristo se transformaram, séculos depois, em guerras, poder e inquisição. “Ai de vós”…