APRESENTAÇÃO: As aventuras de Mel, a pequena voadora (Conto 1: Mel e o cometa Halley)

Estimado leitor, vamos apresentar aqui, periodicamente, uma série de pequenos contos sobre Mel, uma garotinha comum que, desde os 6 anos de idade, vive algumas aventuras voadoras e encontros extrafísicos, alguns com amigos de outros planetas. Hoje Mel já é adulta, mas volta e meia ainda participa de alguma dessas aventuras! Vamos trazer aqui, aos poucos, os relatos que mais marcaram sua vida.   : ) – Beatriz Ventorini

Conto 1: Mel e o cometa Halley

Mel tinha 6 anos quando começou a ouvir os comentários sobre a passagem do cometa. Sua família, colegas da escola, pessoas na rua, funcionários do prédio, o pipoqueiro da pracinha…muito animados, curiosos, comentando as notícias e esperando o grande evento que ocorreria no início do ano seguinte.

Não me lembro se já comentei aqui, mas…este é um conto sobre Mel, uma garotinha comum que, como milhões de crianças na época, estava aguardando ansiosamente pela passagem do cometa Halley. Já se esperava que as férias de verão daquele ano seriam bem mais animadas que o normal, em meio a todo o burburinho trazido pelo cometa. Mas entre lunetas, trabalhos de Ciências na escola, notícias nos jornais, visitas ao Planetário com os primos e muita curiosidade, Mel nem imaginava que passaria por uma aventura surpreendente, inesquecível e que marcaria para sempre sua vida. E mal sabia ela que as aventuras estavam apenas começando!

Bem, voltemos ao conto. Na época, Mel não entendeu o que aconteceu e não conseguiu diferenciar bem o que era imaginação ou realidade, sonho ou aventura. Vejamos se o nosso estimado leitor poderá ajudar-nos a desvendar esses mistérios. Comprometo-me a narrar o episódio da forma mais próxima ao que me recordo.

Mel acordou no meio da madrugada e abraçou seu ursinho de pelúcia. Costumava sentir medo à noite, principalmente de fantasmas. Nas noites em que tinha pesadelos, acordar no meio do sonho era um alívio; mas quando se via sozinha no quarto, era um motivo de pavor. E algumas vezes os personagens do sonho permaneciam no seu quarto por alguns instantes depois que ela acordava; era como se o sonho continuasse se desenrolando no mundo real; como se a história atravessasse alguma dimensão e se materializasse à sua frente.

Mas, naquela madrugada, Mel não sentiu medo; abraçada ao ursinho, ouviu vozes muito conhecidas, que pareciam vir da cozinha. Ficou curiosa, pulou da cama e foi até a porta do quarto para ouvir melhor. A porta do quarto “dormia fechada”, mas naquela madrugada Mel passou pela porta sem sequer tocar a maçaneta. Quando se deu conta, já estava no corredor do apartamento. O corredor entre seu quarto e a cozinha parecia longo para ela, e estava bastante escuro; mas ela conseguiu enxergar perfeitamente o caminho e seguiu tranquilamente.

Passou pela porta da cozinha (novamente sem tocar a maçaneta?!). As luzes estavam acesas e, ao lado do armário de panelas, seu pai e seu irmão conversavam animadamente sobre o cometa. Seu irmão estava explicando ao pai como seria a passagem do cometa e, desenhando nos azulejos da parede, mostrou posições do céu e constelações por onde o cometa faria seu percurso. Mel ficou animadíssima e começou a fazer perguntas ao irmão: que dia o cometa apareceria, por quanto tempo poderia ser visto, como eram os nomes das constelações que ele desenhou…mas seu irmão continuava conversando apenas com o pai e nem olhava para ela; parecia mesmo não estar percebendo sua presença. Mel começou a ficar agitada e a falar mais alto; chamou o irmão pelo nome, mas nada de resposta. Cutucou o irmão, puxou a beirada de sua camiseta, mas ele continuava parecendo não a enxergar. Mel então chamou o pai, que estava de frente para ela; mas o pai também não respondeu. Ela fez gestos de aceno, deu a volta em torno dos dois, e nada de resposta. Nem mesmo olhavam para ela! Então, ela desistiu. Chegou à conclusão de que estava sonhando, e voltou ao quarto para dormir. É, era possível que se tratasse de um sonho: afinal, ela costumava ter sonhos e pesadelos bem realistas, com histórias muito detalhadas e que faziam sentido; então pensou que realmente poderia ser mais um desses sonhos, e voltou a dormir.

Bem, leitor, a parte que considero mais curiosa, e que chamou a atenção de Mel, vem agora: no dia seguinte, quando a família estava tomando café da manhã na cozinha, Mel contou seu sonho e perguntou ao seu irmão e seu pai se eles realmente haviam conversado na cozinha durante a madrugada, ou se ela havia sonhado com isso. Os dois olharam para ela, muito espantados, e responderam que tudo que ela contou do sonho realmente aconteceu naquela madrugada (!). Confirmaram que estiveram conversando na cozinha sobre o cometa; que o irmão desenhou na parede as constelações e mostrou o percurso que o cometa faria; que o irmão apagou os desenhos antes de deitar; e todos os detalhes coincidiam, até mesmo as roupas que o irmão estava vestindo. Ou melhor, todos os detalhes coincidiam, exceto dois: 1) segundo eles, Mel não esteve na cozinha naquela madrugada; e 2) eles afirmavam que a porta da cozinha ficou fechada durante todo o tempo em que estiveram conversando ali, pois eles queriam conversar sem acordar ninguém.

Isso foi muito esquisito, leitor…para todos ali, para a própria Mel e para mim também, na época…como ela entrou na cozinha sem abrir a porta? Como ela ouviu toda a conversa, viu aqueles detalhes, falou com eles, mas eles não a enxergaram ali? Não parecia ter sido um sonho, pois tudo que ela relatou realmente aconteceu, foi confirmado pelo pai e pelo irmão…

(bem, hoje essa história parece bem mais fácil de compreender, mas naquela época, fiquei tão espantada quanto a própria Mel! Imagino que o estimado leitor também tenha sua própria interpretação para esse mistério…)

Na época, Mel não entendeu nada…mas ela começou a perceber que a vida é bem mais maluca do que nós pensamos! E as aventuras estavam apenas começando…