As tardes mornas do outono aqueciam as ruas; o forte calor do verão carioca já havia ficado para trás e, naquela segunda-feira, as crianças chegaram à escola um pouco frustradas, porque o cometa não apareceu no céu. Ou melhor, é claro que ele esteve lá, nas posições e horários indicados, mas elas não conseguiram vê-lo. A poluição luminosa da cidade e o tempo nublado reduziram muito a visibilidade na semana anterior.
Bom, passado o “causo” do cometa, as aulas de Ciências mudaram o foco: naquela semana, cada criança da primeira série deveria pensar em um projeto sobre meios de transporte e sua relação com a Natureza. A proposta da professora era que preparassem desenhos, modelos ou maquetes para apresentarem à turma na semana seguinte.
Mel voltou para casa e começou a pensar: queria algo bem diferente, um projeto criativo e original. Talvez…será que uma máquina do tempo seria aceita pela professora como um meio de transporte? Ou um aparelho de teletransporte…? Talvez um apetrecho que pudesse ser acoplado às roupas e usado pelas pessoas para voar…?
Opa, era esse o projeto que ela queria! Um apetrecho que pudesse ser vestido para que as pessoas voassem.
Bom, Mel jantou e pensou…brincou e pensou…foi deitar e pensou. Dormiu pensando. Lá pelas tantas da madrugada, “acordou” no meio de um sonho e se viu em um parquinho com brinquedos infantis. Mas…em vez de crianças brincando, ali havia vários freis franciscanos, com o tradicional hábito religioso marrom, brincando e…voando!
Ela ficou maravilhada ao ver aquela cena! E, de alguma forma, sabia que não era um sonho. De alguma forma, Mel percebeu que estava acordada, que o que via era real. Seus sentidos estavam aguçados, sua mente estava raciocinando normalmente, ela estava no controle de seu corpo e de sua mente naquele sonho. Tentou imitar os freis e voar também, mas não conseguiu. Pulou, correu e pulou novamente, jogou-se no ar e tudo que conseguia era se estabacar no chão. Até que um dos freis, muito simpático, se aproximou dela, rindo – na verdade, quase rolando de tanto rir – e disse que ela também poderia voar, bastava acreditar que podia e continuar tentando.
Algumas tentativas e tombos depois, Mel ficou bastante desanimada e pensou em desistir. Mas via os freis tão felizes, rindo, voando e rodopiando no ar, e não queria acordar daquele “sonho” sem ter conseguido voar ao menos um pouquinho. Sabe-se lá quando teria outra oportunidade de ter um sonho parecido, com professores de voo à disposição?
Foi então que aquele frei teve uma ideia curiosa para ajudá-la: pegou folhas de jornal, colou várias delas de modo a formar um grande retângulo e dobrou tudo no formato de um aviãozinho de papel (ou melhor, um “aviãozão” de papel). Preparou um “volante” de jornal e o colou no avião, na posição perfeita para ser usado por um “piloto de avião de papel”. Pulou dentro do avião e fez o avião decolar, voando baixinho. Mel ficou maravilhada e quis pilotar o avião; o frei desembarcou e a ajudou a embarcar e Mel, radiante, pôs-se a pilotar o avião, voando baixinho pelo parque. Era incrível a sensação! Ela podia voar para onde quisesse, controlava o voo apenas com o poder da mente, subia e descia e sentia uma leveza diferente, uma liberdade indescritível. Por alguns instantes, Mel quis que aquele sonho não terminasse. Ela queria ficar ali, voando, voando…nunca havia sentido nada parecido, aquela sensação de liberdade e euforia era impressionante.
Bom, como era um “sonho”, uma hora ele precisaria terminar…o frei a chamou de volta e disse que era hora de voltar para casa, acordar e ir à escola. Mel ficou um pouco desanimada, porque não queria parar de voar, queria continuar ali, achava que nunca mais teria outra oportunidade de voar daquela forma no mundo “real”…mas o frei a tranquilizou, dizendo que ela poderia voar muitas outras vezes e que poderia inclusive voar sem o avião; explicou que o avião foi um truque para ajudá-la a acreditar que podia voar, e nem era necessário.
Mel aceitou acordar, e voltou para casa, ainda eufórica com o voo. Acordou empolgadíssima para preparar seu projeto de Ciências: um avião de papel gigante, controlado pelo poder da imaginação, e que não precisava de nenhum tipo de combustível! Era isso!
Ao longo da semana, com a ajuda de sua mãe, colou várias folhas de jornal, usando cola caseira de arroz. Preparou um grande retângulo de jornal, reforçou com cartolina para que ficasse mais firme e dobrou tudo no formato de um “aviãozão” de papel. Ficou orgulhosíssima de seu projeto e o levou à escola, ansiosa para mostrar aos colegas e à professora. Chegando lá, os colegas ficaram muito curiosos ao ver aquele avião de papel tão grande, e vários deles quiseram subir no avião para “pilotá-lo”. Mel contou seu sonho e disse que acreditava que aquele avião poderia decolar, com o poder da imaginação. Os colegas riram muito dela; obviamente não acreditaram que o sonho poderia se tornar realidade, e Mel ficou um pouco desapontada. Mas no fundo, no fundo, ela sabia que aquele sonho era algo real, que ela realmente havia voado e que, de alguma forma, ela ainda iria conseguir voar novamente, com ou sem o avião de papel. 😊
Bem, estimado leitor, já mencionei que as aventuras estavam apenas começando? 😊