AMERICANISMO X BRASILIDADE – CONSCIÊNCIA

Diálogo fictício: Adriano Suassuna e os poetas em uma empresa moderna discutindo o americanismo

Cenário: Uma sala de reuniões de uma empresa moderna, ampla e bem iluminada, com paredes de vidro e plantas em vasos. Cadeiras de design ergonômico estão dispostas ao redor de uma grande mesa de conferências. Na sala, estão novamente os seis poetas brasileiros: Adriano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e Vinícius de Moraes. Eles foram convidados para uma palestra sobre a preservação da cultura brasileira, mas o assunto rapidamente desvia para a crescente aculturação ao americanismo.

Adriano Suassuna: (batendo na mesa, com entusiasmo) Meus amigos, vejam só o que fizeram com nossa cultura! Outro dia fui convidado para uma festa de “Halloween”. “Halloween”, senhores! Nem se deram ao trabalho de traduzir… Cadê nosso Saci? Cadê a Cuca, a Mula sem Cabeça, o Curupira? Parece que foram todos engolidos por uma abóbora importada!

Carlos Drummond de Andrade: (com ironia) Pois é, Adriano. Se eu convidar para uma festa de Saci, vai ter gente me perguntando: “É um evento de cosplay?” Outro dia mesmo, vi um grupo de crianças fantasiadas de “bruxinhas” e “zumbis” nos corredores de um shopping. Perguntei se conheciam o Lobisomem e me olharam como se eu fosse o próprio!

Cecília Meireles: (rindo) Ah, Drummond, parece que o Lobisomem virou personagem de série americana… Talvez tenhamos que colocar o Saci em uma produção da Netflix para que ele volte a ser lembrado por essas bandas!

João Cabral de Melo Neto: (sério, mas com um brilho nos olhos) É isso mesmo! As escolas ensinam as crianças a festejar o Halloween, mas ninguém fala da festa do Bumba Meu Boi, do Boi Bumbá. Se continuar assim, em breve o Curupira vai ter que pedir emprego de ajudante do Papai Noel!

Vinícius de Moraes: (rindo) E o Papai Noel, esse já é um funcionário terceirizado do “shopping center”! Aliás, shopping center, que ideia de nome é essa? Por que não podemos chamar de “centro de compras” ou, sei lá, “mercadão de alegria”? É preciso americanizar tudo!

Manuel Bandeira: (balançando a cabeça) Sim, Vinícius, e o pior é que o brasileiro não só adota, mas ainda se empolga! “Black Friday”, “Cyber Monday”… Parece que a sexta-feira negra foi promovida a feriado nacional, e o Saci tirou férias!

Suassuna: (exaltado) Pois que se devolvam as sextas-feiras ao povo! Que o nosso feriado seja o Dia do Saci, o Dia do Curupira! E nada de “Happy Hour”. Prefiro um “Chá das Seis” ou um “Café com Prosa”!

Cecília Meireles: (sorrindo) Ou um “Hora do Conto”, Adriano! Porque a verdade é que estamos perdendo nossas histórias. Os pais leem “Harry Potter” e esquecem o “Sítio do Picapau Amarelo”. A cultura local está sendo esmagada por um rolo compressor de expressões americanas!

Drummond: (rindo) Expressões americanas? Já me disseram que, numa reunião de trabalho, falaram em “brainstorming”. Perguntei se estavam esperando uma tempestade cerebral… E no fim, era só uma conversa fiada sobre ideias que ninguém vai usar!

João Cabral: (com sarcasmo) “Call”, “feedback”, “deadline”… Pura confusão de identidade! Parece que nem mesmo o relógio escapa, com essas “deadlines” que matam mais a alma do que o prazo!

Vinícius de Moraes: (com ironia) Pois então, meus amigos, na falta de termos bonitos e nossos, tudo vira “start up”. Até o botequim da esquina virou “bar gourmet”. Que saudade do tempo em que eu podia tomar uma cachaça sem precisar de um “cocktail menu”…

Manuel Bandeira: (rindo alto) E não se pode mais beber um chope, Vinícius! Agora é “happy hour”, com direito a “double drink” e tudo mais! Nada mais é genuíno, tudo vem com um selo de qualidade importado!

Suassuna: (erguendo a mão com paixão) Então, que façamos um “movimento pela brasilidade”! Que retomemos nosso Curupira, nosso Boitatá! Vamos pôr o Saci nos desfiles de escola de samba, colocar a Cuca para dançar frevo e, quem sabe, convidar a Mula sem Cabeça para um forró pé de serra!

Cecília Meireles: (aplaudindo) E que sejamos corajosos para resgatar nossos contos e tradições! Que o “boitatá” brilhe mais que qualquer “star” de Hollywood!

Drummond: (com sorriso nostálgico) E que tenhamos o direito de amar o que é nosso, de brincar com nossa própria infância, de contar nossas próprias histórias sem precisar de visto ou tradução!

Vinícius de Moraes: (erguendo um brinde imaginário) Então, um brinde aos nossos mitos, ao nosso folclore, à nossa rica e vibrante língua portuguesa! Que ela seja a música, a dança, o ritmo que ecoa por toda essa terra de encantos mil!

Todos: (em coro) Viva o Brasil! Viva nossa cultura!

E a sala de reuniões, mesmo moderna e cheia de jargões corporativos, se enche com o riso e o som das palavras dos poetas, como se um vento suave soprasse pelos vidros, trazendo de volta o aroma da terra, da mata, do sertão e dos contos de antigamente.

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