AS CONSEQUÊNCIAS ESPIRITUAIS DA VIOLÊNCIA – II*

Por Wagner Borges – www.ippb.org.br
(Mais um Depoimento de um Espírito Denso em Recuperação)

Muitas vezes, eu peguei a estrada errada…
E bati a cabeça vezes sem conta.
Eu era um besta-fera ao quadrado! E ninguém podia comigo.
Porque o orgulho não me deixava ver nada.
Eu não escutava ninguém e sempre achava estar certo.
Eu era o barra-grossa… um sujeito cascudo e empedernido.
E maltratei até mesmo os que me amavam de verdade.
Eu me achava o centro de tudo. Era o bonzão da parada!
Pisei forte em muitos desafetos… E bebia para comemorar!
Eu achava Jesus um otário, um fraco que nem saiu da cruz que lhe deram.
E tudo o que me falavam de bom, eu distorcia e chacoteava em cima.
Até tentaram me enfiar as ideias orientais dos budistas pela goela…
Mas eu não estava nem aí… E se encontrasse o Buda, daria uns tapas nele.
É, eu era assim… Nem mais nem menos, o barra-brava dos estádios!
Até que a minha estrada deu no abismo e eu me vi preso às ferragens do carro.
Imediatamente, tudo ficou cinzento e eu gritei por socorro, mas ninguém veio.
Fui envolvido por uma bruma estranha… quando saí do veículo, estava perdido.
Sei lá como, mas o ambiente à minha volta mudou. Eu me vi em Buenos Aires.
Eu estava em um cemitério da capital, em meio à bruma espectral de junho…
Eu conhecia o ambiente, mas estava tudo estranho, aterrador até para mim.
Vaguei por ali, tentando alcançar o portão de saída, mas só me perdi mais ainda.
E sempre me via no mesmo lugar. Eu estava preso como num labirinto brumoso.
Vaguei e vaguei… E sempre chegava no mesmo maldito lugar de onde saíra…
Eu, o valentão de outrora, estava perdido e tremendo igual criança no escuro.
Eu me sentia sendo observado, mas nunca divisava aqueles que me espreitavam.
Gritei e até os ameacei, mas eles não davam as caras. Eram invisíveis para mim.
Com o passar do tempo, surtei. E passei a gritar por entre as campas do lugar.
Gritava como um possesso! E sempre voltava ao mesmo lugar, ensandecido.
Quanto tempo passei ali? Realmente não sei. Literalmente, enlouqueci!
Tudo era enevoado e eu nunca via alguém. Era só a maldita névoa e eu perdido.
Chorei vezes sem conta, aterrorizado. Eu, o barra-brava, agora reduzido a pó.
Eu, que tanto chacoteara de tudo e de todos, estava ali, tal qual um miserável.
E acredito que ficaria nessa condição para sempre… se não fosse uma Luz!
Isso mesmo, uma Luz que desceu e me tirou dessa situação vergonhosa.
Fui arrebatado por ela para fora daquela maldita névoa de cemitério.
E, pela primeira vez em muito tempo, eu pude dormir num lugar seco e limpo.
Quanto tempo dormi? Não sei mesmo. O que me importava era estar salvo.
Depois, vieram umas pessoas vestidas de branco e me avaliaram…
Eu fui transferido para outro ambiente, onde me trataram com banhos de luz.
Lentamente, fui me sentindo melhor. O meu raciocínio foi clareando novamente.
Com o tempo, tudo me foi esclarecido. O acidente de carro tinha acabado comigo.
E eu estivera perdido num abismo de loucura, por causa de minha truculência.
Explicaram que o fato de agir como um barra-brava tinha me comprometido.
E, por isso, eu tive que purgar a minha violência num ambiente denso e pegajoso.
Disseram que isso não era punição divina, mas que eu era denso e igual.
Sim, eu era igual e fui atraído para o lugar onde todos os valentões choram!
Porque, quem é violento por fora, esconde o medo de seus fantasmas de dentro.
E age no mundo como déspota dos seus próximos, até que a morte venha buscá-lo.
Quando me explicaram isso, eu fiquei calado de vergonha. Eu compreendi…
E eu chorei muito, mas, dessa vez, não era choro de desespero. Era choro de vida.
Porque eu, o barra-brava, me desarmei diante da Luz! E fui amado por ela.
Ali, naquele lugar de caridade, acima de Buenos Aires, eu me encontrei.
Agora eu sei que o meu caminho de cura é longo e que preciso me orientar.
Não vai ser fácil, mas eu estou consciente de tudo. Eu sei que vai ser duro!
Assim como é dura a situação atual de minha querida Argentina…
Mas eu agora tenho fé de que tudo irá melhorar, pois não estou mais sozinho.
São muitas as nobres almas que velam por crápulas como eu era, observando-os…
E, no momento certo, elas agem pela Luz! E tudo muda em nosso caminho…
Eu sou prova disso! Eu, o barra-brava de outrora, estou trilhando as vias da paz.
E isso porque aquelas almas superiores vieram me buscar nos meus dias de dores.
Hoje eu sou guiado por elas… E, por elas, eu vim contar a minha história triste.
Mas ela não terminou nas ferragens do carro. Ela continuou depois, nas brumas…
Se hoje eu deixei a violência para trás e voltei a ser gente, foi pela Luz.
Em nome das almas nobres, eu prometo que uma nova história será escrita…
A história da minha redenção! E eu vim aqui hoje, por esse sonho luminoso.
As almas nobres me trouxeram aqui, para eu dar o meu depoimento verdadeiro.
Eu, o antigo barra-brava, a besta-fera de Buenos Aires, estou redivivo.
Agora eu sei que todos os homens são meus irmãos! E o mal é não vermos isso.
Eu sei o dano que a violência faz, por fora e por dentro. E não quero mais isso!
Um dia, eu abominei Jesus. Mas ele não ligou para isso e ainda me ajudou.
As almas nobres vieram em nome d’Ele e me resgataram das minhas trevas.
Eu também ofendi o Buda. Mas, Ele também não ligou e ainda me enviou ajuda…
Por diversas vezes, eu recebi passes espirituais de seus emissários bondosos.
Eles viajavam do longínquo Tibete e vinham me abençoar por sobre a Argentina!
Eu, o agora ex-barra-brava, afirmo aqui que a violência é uma doença!
Eu não sou mais um sacripanta, como um dia me chamaram num bairro da capital.
Eu sou um homem em recuperação. E vencerei os meus hábitos ruins…
Eu agora tenho as cores do mundo em meu coração! Pois sei que todos são irmãos.
E pelas almas nobres, eu peço a todos que perdoem as minhas sandices de antes.
Não creio que os meus antigos colegas de violência deem crédito ao que digo aqui.
Mas se outros desistirem da truculência e melhorarem, ficarei muito contente.
Pelas almas nobres, eu peço outra coisa: que façam esse depoimento circular…
Para que, talvez, essas palavras possam chegar na minha terra e melhorar alguém.
As coisas estão loucas na Argentina e o meu povo de Buenos Aires está sofrendo.
E me custa muito falar disso. Ainda mais sabendo que pouco posso fazer daqui.
Hoje eu compreendo que brasileiros e argentinos são irmãos de Cone Sul!
Precisam se respeitar e se ajudar mutuamente, pelo bem de seus povos…
Se eu, que fui barra brava e besta-fera, sei disso, porque os políticos ignoram?
Queira a Luz que essas palavras cheguem a minha gente sofrida…
Eu sou ex-barra-brava, com muito honra! E, junto com as almas nobres, vou indo…
Sim, indo para a Luz… porque, agora, o meu coração tem as cores do mundo todo.
Agradeço a todos que lerem o meu depoimento. Isso é importante para mim.
Porque eu sou a prova de que até mesmo uma besta-fera pode se regenerar.
Eu, que odiava o Brasil também, agora vim aqui, com humildade, pedir desculpas.
Porque, certa vez, eu agredi torcedores brasileiros em Buenos Aires.
Se Jesus e Buda me perdoaram, por que vocês não me perdoariam também?
As almas nobres** me pediram para dizer isso: Brasil e Argentina são irmãos!
Agora eu me vou… Com as almas nobres, para a Luz. Agora, em Paz.
Muito obrigado a todos, argentinos e brasileiros, meus irmãos, sem dúvida***.

– Anônimo –
(Recebido espiritualmente por Wagner Borges.)

– Nota de Wagner Borges:
Eu nunca fui fisicamente a Buenos Aires, mas ainda pretendo conhecer as livrarias e os cafés da importante e tradicional cidade portenha. E esclareço que só fui o intermediário desse depoimento espiritual. Não sei detalhes sobre o espírito comunicante e nem os motivos pelos quais os mentores extrafísicos o trouxeram até aqui. Só sei o que aqui está grafado e nada mais.
Esclareço, ainda, que pouco sei sobre os barra-bravas argentinos. E penso que não se pode generalizar nada. O que o espírito está contando refere-se ao seu caso em particular, onde ele foi um cara violento nas ruas e estádios de Buenos Aires.
E, aqui no Brasil mesmo, nós não temos torcidas com membros violentos e diversos distúrbios causado por eles e suas paixões descabidas? E os hooligans britânicos?
No entanto, penso que histórias tristes como a desse espírito servem de exemplo para a reflexão sadia de outros homens. Na verdade, servem de alerta consciencial para todos! E eu me incluo nisso também, claro.
Eu só sei de uma coisa: repassando em aberto esses escritos, estou cumprindo o meu trabalho aqui embaixo. E isso me deixa muito bem comigo mesmo.
O resto é, simplesmente, Paz e Luz!

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