Wagner Borges – www.ippb.org.br
Existe uma sabedoria ancestral que os homens brancos convencionaram chamar de Xamanismo, na tentativa de designar um conjunto de práticas e ensinamentos ancestrais dos povos indígenas (que sequer tiveram sua origem entre os povos nativos da Terra, mas vieram de outros planos em eras primevas da humanidade).
O conjunto desses conhecimentos foi repassado de mestre para discípulo, de xamã para xamã, o homem ou a mulher da sabedoria e da integração com a natureza…
Em algumas ocasiões, essa sabedoria (que não pertence a nenhum xamã, já que todos os seres são seus canais), desce mais uma vez entre os homens e mulheres de todos os povos, porque todos são irmãos, brancos, negros, vermelhos ou amarelos.
Todos são pedacinhos vivos do Grande Espírito e, nas condições adequadas, podem absorver essa essência espiritual e veiculá-la de formas variadas no mundo.
Essa sabedoria ancestral ensina que o xamã verdadeiro (não apenas de função, nem de investimento religioso), caminha com coração e alma…
* * *
Todos podem reencarnar em várias condições…
Aquele que foi xamã ontem, hoje pode ser homem branco reencarnado, e o homem branco poderá ser o xamã de amanhã.
Essa sabedoria ensina que o xamã verdadeiro abre o seu coração ao Grande Espírito, como canal consciente e sensato… e quando ele pega um punhado de areia e joga numa fogueira, imagina que é como o Grande Espírito semeando estrelas (ele sabe que o Grande Pai está nas estrelas e nos grãos de areia e em tudo).
Quando o xamã verdadeiro acende uma fogueira e faz o seu ritual, ele curva sua cabeça aos espíritos que o orientam e ao Grande Espírito.
Quando acende o fogo, que para ele é sagrado, imagina que está queimando impurezas de si mesmo e que está oferecendo Luz ao mundo… está acendendo outros corações com aquela chama.
Quando o xamã verdadeiro pisa no solo da Terra, ele sabe que está pisando o tecido vivo da existência em forma sólida, pelo poder do Grande Espírito de condensação das energias.
Quando ele mergulha nos rios, sabe que estes são veias do mundo, carregando a linfa vital planetária, que é a água. Então, ele agradece o dom da vida que esse elemento propicia.
Quando o xamã verdadeiro sobe à montanha, ele sabe que, na verdade, está escalando níveis dentro dele mesmo…
Quando ele passa por uma iniciação, ele não está interessado em grau algum, pois sabe que os testes aos quais ele é submetido são testes de espírito, e o grau que ele carrega é o seu caráter, sua bondade e seu respeito pelas coisas da existência. Respeitando a criação e todos os seres, assim ele respeita o Grande Espírito que é o Criador de tudo.
Quando o xamã é verdadeiro, ele se senta embaixo de uma grande árvore, sabendo que ela é sua irmã… então, ele entrega o seu coração a ela e se solta e, muitas vezes, é curado, não de seus ferimentos físicos, mas de suas feridas emocionais. A irmã árvore o libera de cargas energéticas pesadas, adquiridas no contato com as pessoas doentes que ele trata (e também com os espíritos carentes).
Quando o xamã é verdadeiro, ele olha para cima, para o espaço sideral, e considera a abóboda celeste como se fosse o teto da existência, o teto da sua casa… então, ele olha as estrelas como se fossem suas irmãs e agradece ao Grande Espírito pelo despertar de sua consciência e pelos valores que norteiam sua jornada xamânica (que não é a jornada de quem não quer reconhecer o espírito e a essência das coisas em tudo).
Sem a inspiração do Grande Espírito e dos espíritos luminosos que o assistem, o xamã sabe que não teria forças para trilhar essa senda.
O xamã verdadeiro sabe que os seus pensamentos são lidos pelo invisível.
Ele sabe que o espírito do vento sussurra mensagens sutis… sabe que o som do vento passando pela campina baixa pode trazer outras energias. Então, ele escuta, com seu coração, os sussurros espirituais da natureza.
Quando ele faz um ritual solitário, sem que ninguém saiba, ele oferece ao mundo o poder da cura (e abraça o mundo em nome do Grande Espírito, porque ele é o seu veículo).
Quando os xamãs verdadeiros se reúnem no mesmo espaço físico (porque já estão reunidos no espaço do coração) e dão as mãos, eles imaginam que estão dando as mãos aos espíritos luminosos, formando uma corrente, que, por sua vez, se propaga a favor de todos.
O xamã verdadeiro sequer pensa que é xamã, porque sabe que Xamã mesmo é o Grande Espírito, o Mestre de todos os seres.
Ele também sabe que os seus valores não serão compreendidos pelos outros e, mesmo assim, honrará sua trilha e até caminhará solitário por ela, se assim for necessário… porque ele jamais deixará de cumprir a missão que o Grande Espírito lhe ordenou. Caminhará contente por sua trilha se tiver amigos caminhando com ele, de mãos dadas; mas, se não for possível, ele caminhará assim mesmo, no silêncio solitário, de mãos dadas com as estrelas e com a Terra.
Em alguns dias especiais, a sabedoria antiga abraça o mundo mais de perto e alguns homens e mulheres, de diversas tradições, conseguem captar uma parte disso…
E, assim, por todos os lugares flui uma nova brisa, invisível, espiritual, que areja as mentalidades e as energias (areja até mesmo os espíritos apegados a matéria e a ódios antigos).
Para esses, o xamã faz uma prece ao Espírito da Águia, para que ele venha e arrebate esses espíritos doloridos para o alto, para aqueles planos maiores do Grande Espírito, para que eles recebam a cura necessária.
Para aqueles mais afoitos e ansiosos, o xamã reza para o Espírito do Urso, para que ele venha e arrebate a pessoa para dentro de uma caverna espiritual, onde ele apaziguará o seu coração na arte da paciência de esperar a nova primavera que virá…
Para os doentes, o xamã convoca o Espírito da Serpente e ora pela cura, pela troca da pele e pela renovação de quem precise.
O xamã pede ao Espírito do Búfalo a abundância para todos…
Ao Espírito da Borboleta, a liberdade dos pensamentos.
Ao Espírito do Golfinho, a alegria.
Ao Espírito da Baleia, a sua sabedoria ancestral e sua memória.
Ao Espírito da Formiga, a noção do trabalho e da responsabilidade.
O xamã verdadeiro, quando une suas mãos aos seus irmãos, sabe que cada um deles está representando a muitos outros. Também sabe que, dando as mãos, ele toca as estrelas, o planeta e a outros corações, pela união dos propósitos, pela conexão dos valores e pela verdadeira ecologia dentro de sua própria consciência.
O xamã verdadeiro é pura gratidão ao Grande Espírito, por todas as coisas… pelo Amor que sente pela existência, pelos amigos, pelos filhos, pelos pais, pelos avós, pelos ancestrais e por seus parceiros e parceiras de vida (agradece pela Luz que um dia desceu sobre sua vida, despertando-o para outros horizontes e valores).
Muitas vezes, o xamã é iniciado num local ermo da natureza, para testar sua têmpera sozinho; porém, outras vezes, ele é testado em grupo, em conjunto com outras consciências. No teste está o seu valor e no valor está a sua Luz.
P.S.:
Simbolizando o dia de hoje, auspicioso, pela Luz emanada para toda a Terra, para toda a humanidade, vamos pensar na figura de uma Grande Estrela sobre todos nós.
Uma estrela, simbolizando a união dos nossos propósitos e tudo aquilo que o Grande Espírito quer de nós em nossas jornadas.
(Essas linhas são a transcrição das palavras que projetei durante uma reunião com o Grupo de Estudos do Espaço Origens, no bairro do Brooklyn, em São Paulo. Na ocasião, eu vi um mentor extrafísico ligado às tradições nativas… e por inspiração dele, verti esses apontamentos de alma xamânica).
– Dedicado aos meus amigos Vitor Hugo França, Marisa Oliveira, Leonardo Dolfini, Leandro Dolfini, Wladimir Jr, Nair Cortijos, Luis Medeiros, Ricardo Gafanhoto, Márcio Harada, Sergio Scabia, e Jefferson Orlandi.
– Wagner Borges – mestre de nada e discípulo de coisa alguma.
– Notas:
* A primeira parte desse texto está postada nesse link:
http://www.ippb.org.br/textos/1455-grande-espirito-estrelas-na-senda
Ver também o texto “A Magia do Grande Espírito – II”, postado nesse link:
http://www.ippb.org.br/textos/1251-a-magia-do-grande-espirito-ii