De Wagner Borges
Outrora, eu era bem violento.
Soltava a pua mesmo, por qualquer coisa.
E como eu também bebia muito, erá só encrenca!
Em casa era um inferno… Minha mulher não me aguentava mais.
Meus filhos me odiavam e tinham vergonha de mim.
Por vezes, eu chegava bêbado e vomitava na sala, diante da família.
De outras vezes, eu caía na rua mesmo, como farrapo humano.
E quando acordava, estava todo urinado e com vômito nas roupas.
Eu não tinha ideia, mas tudo isso era fruto do meu vazio interior.
O meu coração era terra arrasada, um verdadeiro deserto emocional.
Por isso eu compensava na bebida e extravasava a tensão nas brigas.
Isso foi assim por muitos anos, até que o meu fígado não aguentou o tranco.
A cirrose veio e me desenganchou do corpo de carne combalido de álcool.
E eu entrei numa espiral de confusão, sem entender o que estava acontecendo.
Tentava chamar minha mulher e meus filhos, mas ninguém me ouvia.
E quando eu vi o meu corpo no caixão, gelei de verdade. Eu tinha morrido mesmo!
Eu sabia disso, mas não conseguia entender como continuava vivo e pensando.
Era eu mesmo ali, invisível para todos, como um fantasma de mim mesmo.
Desconcertado, saí dali para tomar uma no bar. Eu tinha que esquecer daquilo.
Porém, ao sair da sala do velório, fiquei mais confuso ainda e perdi a consciência.
Quando dei por mim, uns homens vieram zombar e me encher a paciência.
Eram sujeitos terríveis e zombeteiros. Gritavam e me azucrinavam demais.
Todos eles cheiravam a álcool e vômito. E estavam vestidos de mulambos.
Olhando-os, senti nojo deles. E, depois, tive nojo de mim mesmo.
Porque eu era igual a eles. E, pela primeira vez, eu refleti sobre minha condição.
Horrorizado, fugi de todo mundo. Me entoquei num prédio em ruínas e fiquei ali.
Não sei por quanto tempo fiquei naquele tugúrio sujo, ensimesmado e deprimido.
Até que, um dia, surgiu uma Luz e veio em cima de mim. E eu me senti bem.
E na Luz veio junto um grupo de homens e mulheres vestidos de branco.
Pareciam médicos, mas eram diferentes. Eles eram translúcidos e leves.
Me pegaram e me tiraram dali. Depois, me fizeram dormir numa maca brilhante.
E eu aproveitei e dormi muito, pois há tempos não relaxava e nem dormia.
Sonhei muito. Precisava desanuviar a mente. E nos sonhos, eu vi minha mãe.
Quando finalmente acordei, estava num lugar aprazível e cheio de natureza.
Sentia-me renovado como nunca! E o cheiro do álcool tinha sumido de mim.
Com o tempo, me inteirei de tudo. Os atendentes espirituais me esclareceram…
Então eu vi o quanto de tempo eu perdi na vida e o quanto fiz os outros sofrerem.
Só não me desesperei porque aqueles espíritos bondosos me deram suporte.
Com eles aprendi a apreciar o valor da música na cura das coisas do coração.
Fiz terapia e tive que enfrentar a mim mesmo. Foi duro demais, mas necessário.
E o que me fortalecia era a música. Aprendi a viajar mentalmente…
Então, hoje, eu fui trazido até aqui para dar o meu depoimento de ex-alcoólatra.
Porque está na minha hora de passar de plano e ir para um cantinho acima…
Minha mãe está me esperando lá. E eu estou louco para revê-la e abraçá-la.
Em todo o meu tempo de dor e vazio, foi ela que patrocinou a minha melhoria.
Ela é um espírito de escol e têm muita Luz. E agora é hora de ir vê-la, finalmente.
Eu sei que depois terei que resgatar um monte de coisas, mas, hoje, é dia dela.
E com a sua ajuda, eu recomeçarei a minha jornada… Quem sabe como músico?
Eu agradeço a todos os que lerem esse meu depoimento, pois vim aqui para isso.
Ou melhor, fui trazido pelos benfeitores espirituais para essa tarefa.
Agora eu vou voar, contente, para o colo de minha mãe. Lá num cantinho de Luz…
E, felizmente, eu vou escutando música, graças a Deus!
– Anônimo –
(Recebido espiritualmente por Wagner Borges – São Paulo, 27 de setembro de 2014.)
– Nota de Wagner Borges: Esse espírito foi trazido até o meu lar para dar esse depoimento. Mas ele fez mais do que isso: compartilhou a alegria dele e mostrou que é possível se regenerar consciencialmente. E mais: ele me agradeceu muito por eu ter pego o depoimento dele. E nisso, eu também fiquei alegre por ele.
Ah, mesmo escolado por tantos anos de tarefas anímico-mediúnicas, eu ainda me emociono com esses lances espirituais. Tanto que, enquanto escrevo essas linhas, as lágrimas rolam teimosamente pelo meu rosto. Por fazer parte de algo assim…
Na quietude de mais uma madrugada, eu penso na imensidão da vida e nas presenças extrafísicas que estão por aí, em vários planos, todas bem vivas**.
Sim, eu penso que há algo mais… Um Amor. Uma Luz.
E que há um Poder Maior em tudo!
E só Ele é que sabe que algumas lágrimas não são de dor, mas de Luz.
Ah, é só o Amor que nos leva…
Paz e Luz.
– Notas:
* Esse texto fará parte de um novo livro sobre vida após a morte que publicarei daqui a alguns meses (com diversos textos alusivos à temática da imortalidade da consciência)
** Enquanto eu passava essas linhas a limpo, rolava aqui no meu som a linda canção “Man of Colours” – da banda australiana Ice House. E para quem quiser apreciá-la também, o seu link no site do Youtube é esse aqui: