Os homens primitivos não possuem controle psíquico satisfatório sobre suas paixões violentas, pois elas estouram violentamente e transbordam, malgrado qualquer tipo de contenções ou ameaças religiosas. Os jornais cotidianos relatam, diariamente, oscrimes mais tenebrosos e as atividades malfeitoras mais danosas, cujos delinqüentes se confessam adeptos ou crentes das mais variadas religiões.
Embora caiba às organizações religiosas a função de confraternizar os homens e amainar-lhes as paixões indisciplinadas, entre os seus próprios adeptos e líderes gera-se o conflito resultante de ciúmes, antipatias e diferenças hierárquicas e até divergência de fórmulas nas interpretações pessoais. Os católicos massacraram os protestantes na “Noite de São Bartolomeu”, na França, mas os protestantes, depois de fugirem e fixarem-se na Nova Inglaterra, terminaram trucidando os protestantes, que chegavam posteriormente com idéias religiosas mais avançadas. Isso demonstra, indubitavelmente, que tais adeptos mudaram o rótulo religioso, mas não se libertaram do fanatismo, da intolerância religiosa e das paixões inferiores!
Não é a seita que determina a natureza do sentimento religioso, mas são os adeptos que escolhem a seita mais eletiva à sua própria graduação espiritual religiosa. Mesmo que não existisse o Catolicismo, Protestantismo, Budismo, Judaísmo ou Islamismo, sempre haveria outro tipo de organização religiosa semelhante e necessária para atender a ansiedade de cada homem ou cada grupo de homens. Quanto mais a criatura progride espiritualmente, ela mais se afasta da artificialização do mundo profano, libertando-se das fórmulas, dos ritos e preceitos, que antes serviam para exteriorizar-lhe o sentimento religioso. Compreende, então, que as liturgias, quanto mais complexas e pomposas, mais confundem o verdadeiro sentimento religioso inato na intimidade espiritual do ser humano!
Às vezes, a maturidade religiosa se faz algo violenta, pois eclode por efeito do crescimento espiritual interior. Então, o homem sente-se inseguro no ambiente religioso primário onde vive, o qual não lhe atende mais a exigência nova sugerida pelo amadurecimento espiritual. Ele apercebe-se, pouco a pouco, da vulgaridade das fórmulas e convenções da sua organização religiosa, algo decepcionado por ter se submetido tão passivamente às mensagens e recursos transitórios do mundo material. Algo como uma desforra psíquica toma-lhe conta da alma, quando avalia sensatamente o artificialismo dos ritos e infantilismo dos dogmas, aos quais prestava um culto respeitoso e obstinado. Então, transferem-se, afoitamente, para qualquer outra doutrina “iconoclasta” ou avessa aos “tabus” religiosos, que mais se afinam à sua nova maneira de interpretar o sentimento divino que desperta no âmago da alma. No entanto, os mais inconformados fecham-se num mutismo ateísta e chegam a irritar-se à simples menção de sua antiga seita religiosa!
Livro: A Vida Humana e o Espírito Imortal- Ramatis/Psicografado por Hercilio Maes