A memória familiar, entrelaçada ao longo das gerações, é uma tapeçaria rica em histórias, legados, mitos, segredos, lembranças e até esquecimentos. Explorar e reconstruir essa memória não é apenas fundamental no contexto terapêutico, mas também uma maneira de resgatar fragmentos da memória social e coletiva. Nesta comunicação, apresentamos uma abordagem prática, seus fundamentos teóricos e insights obtidos em quatro workshops desenvolvidos com profissionais da terapia.
A Proposta de Trabalho: Uma Viagem Interior Coletiva
Os participantes são convidados a uma jornada em quatro fases: aquecimento, trabalho interno e expressão, compartilhamento em subgrupos e comentários. Imagens projetadas na tela evocam memórias, e cada participante escolhe intuitivamente uma imagem, formando subgrupos com escolhas semelhantes. Uma viagem interior segue, explorando sensações e sentimentos ligados à memória familiar. Os participantes traduzem essa experiência em desenhos, compartilhando e atribuindo significado em subgrupos.
Pressupostos Teóricos: Entendendo a Memória Familiar
- A memória familiar é um processo constante de interação com outras dimensões da vida social, entrelaçando história e vida privada.
- Ela é afetiva e relacional, promovendo coesão grupal e contribuindo para a construção de identidades.
- A troca entre as gerações confere novos significados à memória familiar.
Contribuições de Autores Relevantes: Halbwachs, Muxel, Boszormenyi-Nagy, Bowen e Elkaïm
- Halbwachs destaca que cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória do grupo familiar, sendo plural e envolvendo registros pessoais e impessoais.
- Boszormenyi-Nagy enfatiza as lealdades invisíveis na rede familiar e a contabilidade de méritos e dívidas.
- Bowen destaca a importância de visitar a família de origem para o desenvolvimento do “si mesmo”.
- Elkaïm contribui com a ideia da auto-referência como caminho para encontros significativos.
Experiências e Resultados: Uma Abordagem Terapêutica e de Pesquisa
Quatro workshops revelaram o potencial terapêutico e de pesquisa. Os participantes, profissionais terapêuticos, exploraram memórias familiares, ressignificando experiências e fortalecendo laços. A diversidade de memórias, desde lembranças rurais até experiências durante guerras, destacou a complexidade das histórias familiares. A abordagem, centrada na pessoa e no grupo, proporcionou uma expressão criativa e uma ponte entre passado, presente e futuro.
Conclusão: O Papel do Terapeuta Familiar e A Construção Coletiva da Memória
A experiência destaca o papel inovador do terapeuta familiar como observador da realidade familiar. A abordagem prática e teórica explorada nos workshops demonstra potencial terapêutico e sugere caminhos para pesquisas futuras. A construção colaborativa da memória revela-se como um processo dinâmico, promovendo a individuação e fortalecendo o senso de pertencimento ao grupo familiar.