(O Amor em Silêncio)
Wagner Borges
A primeira vez em que vi Você, eu não estava preparado.
Porque eu imaginava que só um grande mestre é que poderia vê-lo.
E, no entanto, ali estava Você, bem na minha frente, como um velho amigo.
Ah, meu amigo, eu sempre pensei que o seu olhar fosse abrasador.
Mas, Você me olhou de forma tão pura, como quem olha para uma criança.
E dos seus olhos emanava uma doçura sem igual, serena e lúcida.
E isso me assustou. Porque eu era imaturo para compreender a sua simplicidade.
E minha mente estava cheia de conceitos sobre como Você era o Iluminado.
Por isso me choquei; porque a sua profundidade estava na sua simplicidade.
Porque Você veio como um amigo querido, não como um mestre.
E não havia devas* voando à sua volta. Só havia Você e seu Amor silencioso.
Eu era tão imaturo! E Você sabia. E mesmo assim, Você me compreendeu.
Eu queria ter um samadhi!** Mas, às estrelas que vi estavam em seus olhos.
E eu, bobo, não tive coragem de receber o seu presente, e corri assustado.
Porque, só de ver Você já era um presente. Mas eu não aguentei o seu Amor…
E fugi, com o coração despedaçado… E gritei perdido na noite de mim mesmo.
E Você se foi, porque sabia que ainda não era a hora, e o tempo acertaria tudo.
E, depois, eu me envergonhei tanto. E voltei, mas Você já tinha ido embora.
Então, prometi a mim mesmo que cresceria e o veria novamente, algum dia…
E o tempo passou, como sempre faz… E eu estou aqui, lembrando-me de Você.
Lembrando-me do seu olhar doce. E de como eu era bobo e imaturo, e não sabia.
Hoje, é outro tempo, em outra vida, e eu ainda sou bobo, mas agora eu sei disso!
E, em várias ocasiões, eu senti o seu abraço silencioso, por entre os planos…
Sim, eu senti o seu Amor e também vi Você abraçando secretamente o mundo.
E meu coração sentiu como Você absorvia o sofrimento de muitos, e os curava…
E de como Você transformava as dores da humanidade em lindas pétalas de luz.
E depois as fazia choverem invisivelmente na crosta do mundo dos homens…
Ah, Buda, eu ainda sou aquele bobo de outrora, mas agora eu não tenho medo.
Talvez eu tenha melhorado um pouco, não sei, mas Você sabe. E eu sinto Você…
Como agora, quando o meu coração me mostra o seu olhar por entre os planos…
E eu Vejo, em espírito, miríades de seres sendo abençoados dentro desse olhar.
E eu não corro mais… e nem quero samadhi algum!
E nem preciso que Você venha aqui. Porque Você está dentro do meu coração.
Aliás, sempre esteve… Apenas eu não sabia.
E naquela vida, lá atrás, Você deve ter rido muito quando eu corri com medo.
E hoje, eu mesmo rio tanto disso… E, mesmo ainda sendo bobo, eu compreendo.
Ah, meu amigo, eu vejo o seu olhar sereno, e continuo me sentindo igual criança.
Então, eu vou na varanda e olho o céu noturno da grande cidade, que está nublado.
Mas eu vejo estrelas, sei lá como. E elas estão dentro do meu coração.
E eu fico quietinho, pensando em Você abraçando e abençoando a humanidade.
Sim, eu fico quietinho, orando em silêncio e pegando uma carona com Você.
E vou olhando o mundo como o Amor olha… Em silêncio, serenamente.
Ah, Buda, eu não corro mais! Agora eu viajo junto na doçura do seu olhar…
E o céu nublado fica lindo, cheio de estrelas, porque eu vejo pétalas de luz…
E fico aqui, com o seu olhar refletido nos meus olhos, olhando como o Amor olha.
Enquanto Você absorve a dor do mundo e faz chover pétalas de luz secretamente.
P.S.:
Ah, Buda, eu ainda sou bobo, Você sabe.
Mas Você me olhou como um velho amigo.
E, agora, mesmo bobo, eu compreendo.
Iluminação é Amor consciente!
Amor que abraça.
Que nada julga.
Que ama serenamente.
E que compreende os bobos que correm…
Ah, Buda, Você deve ter rido tanto.
(Dedicado aos mentores espirituais, de todas as linhas, que viajam por entre os planos, em meio às pétalas de luz que descem do céu, sempre ajudando a todos, sem aparecer, por obra e graça de um Grande Amor.)
Om Mani Padme Hum!
Com Gratidão.
Paz e Luz.
– Wagner Borges – ainda bobo, mas melhorando… Sempre!
– Notas:
* Devas – do sânscrito – divindades; seres celestes; seres de luz.
** Samadhi – do sânscrito – estado de consciência cósmica; expansão da consciêcia.