SETE INVERDADES DOGMÁTICAS

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(Extraído do livro A Chama Crística pelo Espírito Ramatís)

Nos dias atuais, encontrais a verdade? Como tudo é gradativo e a evolução não dá saltos, tendes que conviver ainda, em vosso orbe, com as inverdades dogmáticas, amarras que infantilizaram a humanidade, oriundas da atuação do clero sacerdotal, e intimidaram a expressão individual do eu divino, amedrontando as criaturas através da “posse” da Divindade: a prerrogativa de concessão benevolente às almas crentes, fiéis, dóceis e isentas da mácula dos pecados, do céu paradisíaco e do êxtase ocioso, ou de envio “justo” dos pecadores descrentes e hereges ao infernodos caldeirões de enxofre fumegantes e de labaredas perpétuas.
A detenção, pelo clero católico estabelecido, do direito individual de religar-se ao Pai, juntamente com os poderosos e reis temporais, ocasionou ascendência sobre os governos e domínio influente total das coletividades. Assumiu o dogmatismo, aspecto nitidamente religioso e não filosófico, como sempre ocorrera. Para os integrantes da Igreja Católica Apostólica Romana, dogma é todo o ensino como norma imposta, infalível e inquestionável.
A quimera que se suscitou, a posse da religiosidade dos desprezíveis mortais, através do cárcere da tortura dogmática, lamentavelmente é setenária. Conseguiu-se manchar e distorcer o símbolo sagrado da libertação do espírito, que se criou no inconsciente dos terrícolas diante do número sete, oriundo de épocas imemoriais; o trabalho missionário de todos os mestres iluminados que encarnaram, trazendo o conhecimento libertador dos grilhões da ignorância e o livramento condicional para os sentenciados ao ciclo da carne.
Fazia-se necessário o fortalecimento do catolicismo, enfraquecido na luta contra as outras religiões, consideradas como heresias e paganismo. Esse processo sempre fez parte da História, tendo se iniciado com a queda do Império Romano e a perda gradativa da influência da Igreja. Os sacerdotes e os padres recorreram às armas intelectuais de que dispunham e que mais influenciavam o caldo religioso da época. Verificaram que os conhecimentos iniciáticos da trindade e do setenário estavam presentes em quase todas as outras religiões. O grande trabalho da elaboração dos dogmas – ano 200 até 325 – e da conclusão da escolástica católica no inicio da Idade Média, baseada no tomismo de Tomás de Aquino, foi de compiladores que tiveram influência decisiva dos filósofos gregos.
No silêncio e no recolhimento das bibliotecas, os sacerdotes, que dispunham de todo tempo necessário, por estarem ausentes da vida social exigida na sociedade profana, estudaram todas as religiões orientais, as crenças e as filosofias existentes no mundo. Influenciou-os, decisivamente, na elaboração dos dogmas e na forma de apresentação aos fiéis para cooptar os crentes de outras religiões: a tríade, ou tríada, e o setenário da doutrina pitagórica. Esses conhecimentos iniciáticos faziam parte da filosofia grega, que era respeitada e considerada de grande valia pelos estudiosos do clero católico, e corroborou, por serem similares, os escritos analisados das outras religiões, fundamentalmente as orientais.
Eles tinham à sua disposição todos os manuscritos antigos com a sabedoria que guardavam, dos séculos anteriores. Conseguiram imprimir um cunho esotérico ao catolicismo, deixando-o “semelhante” às outras religiões, mas excluindo-as, pois os dogmas criados tinham como objetivo torná-lo inquestionável, instrumentando a hierarquia sacerdotal para perseguir os descrentes instruídos – considerados pagãos – e, por isso, ameaçadores. Assim, formularam lima doutrina teológico-filosófica, apresentando-a baseada lia similaridade da trindade e do setenário com as outras religiões e crenças para que se tornasse dominante e sensibilizasse os questiona dores cultos – todos considerados heréticos – a aderirem ao catolicismo.
São sete os dogmas católicos: a divindade de Jesus, a santíssima trindade, o pecado original, a doutrina das penas eternas, a ressurreição da carne, os sacramentos, que também são em número de sete, e a infalibilidade papal. No contexto dessa breve exortação, totalmente comprometida com a verdade libertadora das criaturas, comentaremos sucintamente cada um dos dogmas; legítimas amarras em nó de marinheiro que prendem e retardam o barco do espírito de zarpar para o oceano do Todo cósmico. Tudo tem seu tempo e sua hora. Uma criança não dá os primeiros passos sem antes tomar algumas quedas, enquanto engatinha. Respeitemos sempre a fé de cada um e o seu momento na ascese evolutiva. A verdade que liberta é conquista meritória individual e não prerrogativa de qualquer credo ou religião no orbe terrícola. No entanto, devemos dar a água que sacia a sede de libertação das criaturas, tão ávidas de palavras livres de alegorias e ritualismos escravizantes. Quanto à divindade de Jesus, como poderia o Deus Criador, incriado, que não teve início e não tem fim, onisciente e onipresente, que tudo vê e que em tudo está, preterir todos os seus outros filhos, planetas, estrelas e constelações no infinito do Cosmo, para estar, momentaneamente, enclausurado e comprimido num limitado corpo humano, numa partícula, gotícula da torrente universal, no plano mais denso e pesado de manifestação do espírito? Seu filho mais ilustre a pisar o solo terrestre, o Divino Mestre Jesus mas não a Suprema Divindade, Deus, no momento mais expressivo de sua estada entre nós, no instante terminal do seu passamento de plano vibratório, desvela seu amor à humanidade e ao Pai a quem se devota, demonstrando que ele e a Suprema Divindade não eram o mesmo ser, que o Pai de todos não estava limitado em si, exclamando: “Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem”. A santíssima trindade se desfaz com o esclarecimento da divindade de Jesus, que não é Deus. Mas, ponderemos quanto à trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. A trindade é usada também em todas as antigas mitologias. É a tríade ou tríada da filosofia pitagórica, já comentada. Esotericamente, encontra-se na maior parte das religiões conhecidas; por exemplo, a Trimurti dos hindus. Esses aspectos esotéricos e iniciáticos da trindade influenciaram as seguintes religiões: egípcia, grega, indiana, chinesa, órfica, masdeísta, cabira, fenícia, tíria, eleusina, celta, dos godos … O clero sacerdotal compilou, transferiu e adaptou ao catolicismo a simbologia esotérica iniciática do número três, como idéia mística da Trindade Divina: Vita, Verbum, Lux. No simbolismo original, o Pai é a Vida, o poder e a força; o filho é o Verbo e a palavra que sintetiza a forma; o Espírito é a Luz, que não é substância nem inteligência, mas o resultado da inteligência com a substância. Assim, incorporou-se o Espírito Santo como a terceira pessoa, que estaria num mesmo ser, demonstrado em Jesus, para formar a Santíssima Trindade.
Considerai ainda que, na versão grega dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos, a palavra espírito está isolada e a tradução seria “um espírito santo”, ou simplesmente “um espírito”. Um espírito pode conquistar a condição evolutiva de santo, desde que tenha sublimado o ego, os sentimentos inferiores e equilibrado a balança cármica. Para esse intento, não precisa ter praticado reconhecidos milagres, nem ser honrado em culto público e participar de qualquer igreja ou aguardar decisão de líder religioso em ato solene. Como poderia um encarnado santificar alguém, estando com a visão obnubilada pelo equipo físico, escafandro grosseiro que se encontra no fundo do pântano lodoso das mazelas e das vicissitudes da vida na matéria?
A concepção da Santíssima Trindade dos católicos ficou obscura e incompreensível, até aos padres e párocos. Mas, ofereceu grande vantagem às pretensões do clero sacerdotal ávido de mando. Permitiu-lhe fazer do Cristo-Jesus um Deus, a Suprema Divindade, que a Igreja denomina seu fundador. Essa iniciativa de dominação e poder, através da divindade de Jesus e da Santíssima Trindade, nunca foi consenso dentro do próprio clero. Rejeitada por três concílios consecutivos, o mais importante dos quais foi o de Antióquia, no ano de 269, foi proclamada pelo concílio de Nicéia, que, por sua vez, também não teve unanimidade. Essa desunião histórica se deve ao fato de não encontrar apoio nas escrituras, nos atos dos apóstolos ou no Evangelho de Jesus.
Em relação ao pecado original, a humanidade inteira sofreria pelo pecado de um homem, de Adão? É correto o derramamento do sangue de um justo, no calvário da cruz, para apagar a nódoa do pecado que estaria a manchar todo o gênero humano? Onde estaria o mérito do esforço próprio? É terrificante e vil a doutrina das penas eternas. Pode haver arrependimento, com perdão, na vida terrena, e não pode haver no plano astral, na verdadeira vida que é a espiritual, sendo o mundo material caricatura desta? E como poderia uma mãe, no céu paradisíaco de incessante arrebatamento íntimo, ficar tranqüila e feliz, sabendo que um filho amado, que gerou em seu ventre, carregou no colo e amamentou, esteja a crepitar nas labaredas do inferno perpétuo? Em vosso orbe, os defensores do inferno vitalício argumentam que o homem finito que ofende o ser infinito Deus, deve sofrer igualmente pena infinita. Mas, a ofensa deve guardar relação com o ofensor e sua capacidade, e não com o ofendido. Como poderia Deus, a perfeição absoluta, sofrer ofensa, ofender-se? Em outros textos já tratamos disso. Até nas vossas normas de Direito Penal já se reflete uma parecença com o Direito do Cosmo, do cidadão universal. Observai que, neste caso, a inimputabilidade do ofensor pela desproporção da sua maturidade intelectual e consciencial, ser finito e limitado que é, em relação ao ofendido, que é infinito e, por conseguinte, ilimitado em suas qualidades. E onde estaria o perdoar as ofensas não sete vezes, mas setenta vezes sete?
Na ressurreição da carne, contrariaria Deus todos os preceitos siderais da cosmogênese, voltando o espírito ao corpo decomposto, putrefato, carcomido pelos vermes devoradores, ou resumido a pó, nos fins dos tempos que nunca chegarão. Qual o motivo de o Criador contrariar as Suas leis imutáveis e que Ele mesmo criou? Não existem milagres como concebeis! Muitos padres e vigários sempre conheceram o corpo astral ou perispirítico. E aquilo que não compreendiam, que não estavam preparados para saber, ou que r não era permitido pelo Alto, em determinada ocasião evolutiva, não significava que fosse milagroso.
Os sete sacramentos são a chave do imenso poder e mando do clero. Os cristãos católicos não podem se salvar sem eles, sendo que somente o sacerdócio ordenado pode realizá-los. A modernidade dos terrícolas, o enorme acesso à informação, à tecnologia e ao conhecimento, já fazem com que até vossas crianças objetem aos sacramentos, tediosos por serem obrigatórios e definitivos para a salvação, tornando-se sem sentido quando submetidos ao crivo da razão. Iremos relacioná-los sem explanar, pormenorizadamente, o que tornaria assaz maçante o texto, sendo destituídos de relevância quanto ao conjunto das idéias que contêm: batismo, confirmação, penitência, eucaristia, extrema-unção, santas ordens e matrimônio.
Resguardemos a profunda simbologia esotérica contida na liturgia do batismo, na sua significação de despertamento das consciências aos sentimentos superiores, nascimento à luz crística, desvencilhando-se a alma dos sentimentos inferiores, do ego. Exaltemos a importância do matrimônio, como união de duas almas que se amam e compartilharão a estada terrena e o interregno reencarnatório, no mais das vezes em compromisso cármico aceito no Astral, e não como monopólio de uma religião, mas prerrogativa inalienável de todos os cidadãos, independendo da origem da crença ou fé.
Finalmente, a célebre infalibilidade papal, instituída no Concílio Vaticano I, em 1870, não muito após o término do período inquisitorial, contou com condições propícias para implantação, pois não havia mais “hereges”. Nos evangelhos e no Novo Testamento, não há nenhuma alusão ou menção que dê ao apóstolo Pedro a chefia ou supremacia espiritual sobre os demais peregrinos da Seara de Jesus. Pode o trono de Pedro ser mais elevado que os demais, quando o divino mestre alertava que “todo aquele que se elevar será rebaixado e todo aquele que se rebaixar será elevado”? Supõe-se que os papas anteriores também tenham sido infalíveis. Do contrário, mostrar-seia supremacia e maior elevação dos papas ulteriores à adoção do conceito de infalibilidade, em relação aos seus predecessores. Mas, se acessardes a biblioteca do Vaticano, concluireis que existiram, antes deste dogma, papas incestuosos, avaros, homicidas, sexólatras e simoníacos. São ignomínias atinentes ao metabolismo e às excrescências da fisiologia humana, incompatíveis com a perfeição que deve acompanhar a infalibilidade só presente nos espíritos puros, libertos de todo e qualquer carma negativo, e do ciclo da carne, condições evolutivas ausentes na Terra.
Acontece que tendes memória curta, e quando encarnados vos tornais esquecidos das realidades pregressas. Até 100 ou 200 anos atrás acreditavam os homens serem o centro do Universo. Eram oriundos e formados do barro. Os astros eram fincados no céu para lhes darem luz. Vosso orbe era plano, com o céu acima e o inferno abaixo. Assim como essas crenças ilusórias sobre o Universo e o homem ruíram com o conhecimento crescente, também, quando cair o “Véu de Ísis” que está a encobrir os olhos da ciência terrícola sobre a verdade das encarnações sucessivas, a Lei do Carma e a preexistência da alma, esta questão dos dogmas desmoronará, naturalmente, como a onda do mar que derruba o frágil castelo de areia. Reconhecer-se-á a verdade do espírito imortal e a leis divinas imutáveis a regerem a ordem no Cosmo.
Todos os movimentos religiosos terrícolas, tanto no Oriente, estaticamente passivo, quanto no Ocidente, dinamicamente ativo, se reunirão num único tronco, numa Única árvore, vigorosa, firme e sólida, de solidariedade e fraternidade. Surgirá o homem cósmico, integral, cidadão universalista de passividade dinâmica e de atividade mística. Nessa árvore, alguns galhos terão mais folhas e propiciarão mais sombra, mas todos serão frondosos e verdejantes, com muitos frutos a saciar a fome saudosista do Pai, que é todo amor e bondade.
No início da Nova Era, o novo catolicismo, não dogmático e reencarnacionista, continuará sua caminhada, sincretizado com a Umbanda, de mãos dadas e seguidos de perto pelo espiritismo esclarecedor.

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