MEDIUNISMO – RAMATÍS RESPONDE A HERCÍLIO MAES

Obra imprescindível aos médiuns, e elogiado por diversas autoridades espíritas no IV CONGRESSO RAMATIS DO BRASIL, em Setembro de 1999.
Que os princípios divinos, que regem os movimentos ascensionais do espírito humano, vibrem conosco neste momento de aprendizado espiritual. Podeis efetivar vossas perguntas, sincera e corajosamente, visando ao melhor esclarecimento das verdadeiras finalidades da vida terrena – RAMATIS.
PERGUNTA: — Irmão Ramatís, nesta noite, decidimos indagar-vos com referência ao mediunismo, pois alguns confrades e médiuns anseiam por soluções mais claras no campo da mediunidade.
RAMATIS: — Mister, pois, que façais as perguntas baseadas nas vossas próprias experimentações e nos exemplos vivos que, provavelmente, tendes apreciado, guardando, no entanto, sigilo fraterno.
PERGUNTA: — Folgamos em verificar que tendes alcançado nossos pensamentos. De início, apreciaríamos que nos sugerísseis qual o método mais eficiente para o chamado “desenvolvimento mediúnico”. Qual, enfim, a primeira obrigação do candidato a “médium”?
RAMATIS: — Se o primeiro dever de um futuro acadêmico é compulsar as letras do alfabeto, ao futuro médium compete o manuseio criterioso do “Livro dos Médiuns”, compêndio de regras seguras e fundamentais para a disciplina mediúnica! Se desconfiais, na terra, do diplomado que não curso o banco primário, por que ireis atribuir segurança doutrinária, ao médium que olvida Kardec? Não é este o fundamento de todo o edifício espírita?
PERGUNTA: — Porém, acentua-se nas esferas espíritas, a idéia de que “kardecista” é adepto de regras obsoletas, ensinamentos anacrônicos. Conceitua-se que “kardecismo” é, velharia, e, em certos casos, dão-lhe um sentido pejorativo, sinônimo de fanatismo ou intransigência !
RAMATIS: — É nula qualquer ironia contra o esforço do consagrado e insubstituível codificador do Espiritismo. O seu edifício doutrinário correspondeu aos planos e objetivos das esferas superiores, onde vicejam espíritos muito além dos pseudo-sábios terreiros. Suas obras foram ditadas e inspiradas por elevados mentores dos destinos humanos e trazem o conteúdo das coisas eternas! O fanatismo e o acanhamento de idéias não dependem dos dísticos ou das crenças individuais. É fenômeno comum em todas as atividades humanas, existindo em todos os credos religiosos, movimentos filosóficos e instituições políticas ou doutrinárias. É mais conseqüência do atraso mental dos adeptos, devotos ou filiados, do que culpa dos seus compiladores. Só a má fé propositada ou o acanhamento mental podem lançar a pecha de fanático à nobre figura de Allan Kardec, de cujo trabalho fundamental há de reviver o Cristianismo em sua pureza iniciática.
PERGUNTA: — É muito comum encontrarmos confrades que se jactam de ser bons médiuns sem nunca terem consultado o “Livro dos Médiuns”.
RAMATIS: — Quanto a ser bom médium, mesmo ignorando o Codificador do Espiritismo, não pomos dúvida, pois, o Catolicismo, o Protestantismo, a Teosofia, o Esoterismo, o Budismo, etc., contaram em suas esferas com magníficos médiuns, de alto teor e sublime dignidade, alheios ao Espiritismo. Recordamos respectivamente, Antônio de Pádua, Francisco de Assis e Tereza D’Ávila; Lutero e João Huss; Helena Blavatsky ou Annie Besant; Prentice Mulford e A. O. Rodrigues; Vivekananda e Ramacrisna e o venerável Buda. Sócrates e Platão revelavam faculdade mediúnica, muito antes de Kardec efetivar o roteiro do “Livro dos Médiuns”. Porém, esses inolvidáveis trabalhadores da “Verdade” não se jactavam de “bons médiuns”, mas foi a história e o serviço cristão permanente que os classificou assim Conseqüentemente cremos um tanto precário o julgamento em causa própria de vos considerardes “bons médiuns”, sem a disciplina kardecista, muito antes de apresentardes um labor convincente. O médium que realmente tem propósitos superiores e evangelizados, que anseia pelo desenvolvimento técnico e disciplinado, científico e ordeiro, pode ignorar o método de Kardec, mas não se livrará das cicatrizes próprias dos caminhos empíricos.
PERGUNTA: — Alguns médiuns de nosso conhecimento admitem como “sensato” a não leitura do “Livro dos Médiuns” e dos “Espíritos”, afirmando que seus guias lhes sugerem assim, para evitarem o animismo e associação de idéias futuras. São adeptos do “desenvolvimento espontâneo”.
RAMATIS: — Não encontramos motivos justos para essa afirmação, porque, se a faculdade mediúnica é espontânea, o desenvolvimento deve ser criteriosamente disciplinado. Preferimos, incontestavelmente, os sensitivos que aprimoram sua faculdade medianeira diretamente em contato com a técnica kardecista, porque esta é a síntese de inumeráveis experimentações e comprovações selecionadas à luz da razão esclarecida. No “Livro dos Médiuns”, encontrais, pedagogicamente explicados, os meios sensatos e lógicos para serdes médiuns positivos, calmos, seguros, devotados, humildes, coerentes, naturais, explícitos, maleáveis, modestos, exatos, criteriosos, etc.
PERGUNTA: — Por que o prezado irmão grifou as várias qualidades mediúnicas?
RAMATÍS: — Para ressaltar-vos que no “Livro dos Médiuns” encontra-se aquilo que a maioria procura em labores exóticos e empirismos ridículos. Cremos que é incoerência a penetração na floresta espessa das contradições mediúnicas, quando as flores do bom mediunismo já vicejam à beira da estrada larga dos compêndios espíritas!
PERGUNTA: — Grande número de médiuns com que temos nos avistado, em vários pontos do país, repisam a convicção de que estão em missão sacrificial. Não escondem a convicção íntima de serem “eleitos”.
RAMATÍS: — A generalidade dos médiuns, inclusive o que nos serve neste momento, são criaturas portadoras se grandes débitos no passado. Em vidas pregressas abusaram do mando e da influência magnética entre os encarnados. Muitos galgaram posições privilegiadas e fugiram aos compromissos assumidos, despenhando-se nos abismos da vaidade, o do orgulho, do amor- próprio, da vingança ou da intransigência! Revelam, ainda hoje, a vivacidade e a segurança no trato com as multidões, adaptando-se rapidamente às situações novas e comprovado o desembaraço peculiar aos acontecimentos de vidas passadas. Entretanto, a par dessa veemência e sagacidade no trato mediúnico, grande percentagem ainda se deixa dominar pelos resquícios prejudiciais do passado. Portadores de acentuada suscetibilidade, irritam-se quando contraditos, desejara as primeiras posições, exigem o comando dos trabalhos e estimam profundamente o prestígio no ambiente. Sentem-se humilhados quando submetidos a outros confrades de menor envergadura e desviam-se das oportunidades de servir sem o brilho pessoal! Dificilmente aceitam o anonimato ou a concorrência nos seus labores familiares. Raros acomodam-se à disciplina doutrinária sensata, submissos aos fundamentos de Kardec, na sua intimidade. O amor-próprio ainda grita ferido e os vôos insensatos de ontem ainda se reproduzem em novas formas. Comumente, afastam-se abespinhados dos labores mediúnicos tradicionais, para criarem exotismos à distância. Desforram-se habilmente, rompendo algemas disciplinadoras e protestando que não os compreenderam devidamente em suas intenções!
PERGUNTA: — Conseqüentemente a mediunidade é mais “prova” do que “missão”?
RAMATÍS – Os mestres cármicos, a fim de reunirem as ovelhas ao aprisco do Bom Pastor, criam as oportunidades mediúnicas, em que os falidos do passado podem saldar seus débitos com a Terra, pagando juros num serviço incomum e excepcional à humanidade. Daí a provação ou o dever do médium, muito mais que o espírito messiânico. O missionário estabelece novos créditos na contabilidade divina, enquanto o médium devedor, apenas, cuida de encerrar sua conta passiva. É ainda o eco longínquo do passado faustoso ou distinguido, que faz o médium crer em nobre missão, naquilo que é apenas liquidação compulsória. O espírito do médium, insatisfeito com a inversão do chamado fenômeno de sublimação, confunde a situação humilhante do presente, com a idéia sedutora de missionário. Conformemo-nos, por enquanto, com as excelsas missões de Hermes, Antúlio, Buda, Confúcio, João Batista, Francisco de Assis, Kardec e acima de tudo o sublime Missionário, Jesus Cristo.
PERGUNTA: — Realmente, irmão Ramatís, as agremiações espíritas contam com poucos médiuns em atividade permanente. Muitos achegam-se com o entusiasmo dos primeiros dias e depois desaparecem, surgindo em setores diferentes ou com trabalhos exclusivos.
RAMATÍS: — A generalidade dos médiuns ainda se distancia do Evangelho que disciplina o homem-espírito. São naturais, pois, as mútuas decepções que se sucedem entre os medianeiros do além, inclusive suas proverbiais inconformações às posições secundárias. Comumente procuram ambientes de ótimas correntes ou melhores qualidades afins, esquecidos de que também podem perturbar os núcleos que escolhem porque são portadores de dissenções intimas. Nessa incontida procura de ambientes lisongeiros para o endeusamento pessoal, ainda prendem-se às evocações das posições perdidas no pretérito. Daí a grande necessidade de “orai e vigiai” a todo o médium a fim de livrar-se dos espertos irmãos das sombras. Mister evitar a melancólica viagem de volta!
PERGUNTA: — Entretanto, não podemos deixar de reconhecer que muitos médiuns sublimam essas tendências inferiores, executando exaustivo trabalho a favor de multidões necessitadas. Vemo-los extraindo receitas em quantidade, passes incontáveis e outros serviços úteis.
RAMATÍS: — O Bem tem múltiplas formas, concordamos, e Jesus é quem se encarregará da separação do joio do trigo. Entre os componentes das multidões atendidas por “médiuns” descontentes dos círculos que os desprestigiaram, cada criatura há de receber na conformidade de seu próprio merecimento! Advertimos no entanto, que a “caridade de arrasamento” sem o prazer íntimo de servir, dificilmente diploma cidadãos para esferas edênicas! Muitos há que atendem multidões firmando a “quantidade” do trabalho e perdem fragorosamente pela ausência de “qualidade” cristã! Podemos acender luzes nos corações alheios e encerrarmos nossas atividades espiritistas na escuridão do descaso íntimo. Exaurindo-nos no tumulto da assistência às multidões animadas pelas soluções fáceis, não estamos desobrigados de extinguir as sorrateiras paixões que ainda podem brotar em nossas almas. Quando o cruel doutor Saulo de Tarso resolveu transformar-se no sublime apóstolo dos gentios, buscou primeiro a sua própria intimidade e atirou-se decidido, ao ataque às inferioridades do “homem velho”! A caridade, a nosso ver, é emoção que se identifica com o “virtuosismo” da Arte ! Praticá-la em sua verdadeira essência, assemelha-se a usufruir a emoção que impregna o pintor ao tecer o máximo do seu ideal, ou ao compositor que em êxtase transforma sua alma em sublime melodia!
Conseqüentemente, não importa se atendeis multidões ou efetivais a caridade em altos brados; o que importa, em essência, é se participais emocionalmente dessa oferenda ao próximo! Porque se a praticais por desforra aos que vos negaram aplausos, o por mera competição, mais afim aos despeitos desportivos ou políticos, asseguro-vos a inutilidade de vossos esforços!
PERGUNTA: — Por ventura, certos ciúmes e despeitos ocorridos entre médiuns que estimam os melhores lugares, não podem servir, indiretamente, para que muitos desejando “aparecer”, divulguem a doutrina com mais energia?
RAMATIS: — Perfeitamente. Aliás, consideramos mesmo a generalidade que, às vezes, vai à temeridade espetacular. Entretanto, a própria Natureza ensina que após a queda fragosa dos arvoredos gigantes, sob a tormenta destruidora, a violeta continua à beira do caminho a evocar o seu perfume, humilde, apagada em sua expressão vegetal, sobrevive ante a fúria dos elementos que não lhe alcançam a pequenez vegetal. Aqueles que, pretendem a exaltação antes do esforço da humildade, são as primeiras vítimas nas tempestades devastadoras. A singela luz da vela alumia a noite toda, enquanto o brilho deslumbrante dos fogos de artifício termina em cinzas, após minutos de vida! O “médium” decepcionado que se exalta no labor espetacular às multidões, unicamente para demonstração desafiadora aos que duvidam de suas faculdades, é o inconfundível candidato às cinzas dos fogos de artifício!
PERGUNTA: — O médium que em face de exaustivos labores mediúnicos, para atender necessitados, se descura dos seus deveres domésticos, perde o mérito do seu trabalho?
RAMATIS: — Diz um de vossos próprios provérbios “que o exemplo vem de casa”. Como podereis inspirar confiança na solução dos problemas de inquietação alheia, se fracassais nos comezinhos princípios de higiene, de alimentação e vestuário nos vossos lares? Qual o mérito de vossas obras, se atendeis festivas multidões às vossas portas, enquanto a desordem, a queixa familiar se faz a vossa retaguarda, na intimidade do lar? Não podeis compensar com tinturas, xaropes e passes a estranhos a profilaxia que se resume em água e sabão aos vossos descendentes sem asseio. As centenas de receitas que às vezes emitis para as mais descabidas aflições, não substituem as vossas responsabilidades primeiras, no labor da agulha e da linha de coser! CRISTO, muito antes de médium entre o céu e a Terra, era disciplinado cidadão do mundo!…
PERGUNTA: — Alguns médiuns queixam-se do seu insucesso quando se desenvolviam em “mesas kardecistas”, afirmando que, em terreiros, se desenvolveram rapidamente.
RAMATIS: — A mediunidade não é um “fim” determinado pelos Mestres cármicos, mas um “meio” para melhoria espiritual. Não importa a quantidade do tempo dispendido pelo candidato a médium, mas sim a qualidade que obtiver durante o exercício realizado. Que vale o desenvolvimento rápido se o médium nada possui para ofertar? Há mérito em se oferecer taça vazia para aquele que agoniza de sede?
Como o desenvolvimento mediúnico não consiste numa série de movimentos rítmicos, símile da ginástica física muscular, o neófito alcançará excelentes qualidades apreciando a leitura do Evangelho, ouvindo espíritos demonstrarem a realidade imortal, participando da oração coletiva e das irradiações periódicas, ou avaliando as situações dos comunicantes aflitos. Há de incorporar, antes, inúmeros valores ao seu acanhado patrimônio espiritual, antecipam a aflitiva idéia de começar a fazer a caridade ao próximo, na cópia do mecanismo acadêmico do mundo, que diploma candidatos para determinadas profissões. Junto à mesa Kardecista, embora sem se desenvolver mediunicamente, o aspirante desenvolve o sentimento da benevolência aos sofredores, aguça a sensibilidade para absorver os esclarecimentos técnicos do mediunismo, desembaraça a língua na oração coletiva e ativa as células cerebrais no afã de projetar energias nas tradicionais irradiações. Adquire a perseverança pela necessidade de comparecer habitualmente aos trabalhos e o sentido da amizade pelas novas relações efetuadas no ambiente espiritista. Aviva o senso da razão ante as elucidações do doutrinador e as réplicas dos comunicantes. Confiando no prodígio de sua mediunidade explodir subitamente, o candidato a médium aproveita centenas de horas que dispensaria no jogo trivial, na palestra fescenina, na crítica desairosa na discussão política ou desportiva, na ingestão de alcoólicos ou na ociosidade mental!
Entretanto, o futuro médium, inconsciente das virtudes e atributos superiores que incorporava, gradualmente, ao seu patrimônio espiritual, ansioso pela atenção pública, abandona o banco das lições preliminares ao espírito, e tenta um desenvolvimento à base de esforços espasmódicos!… Confundindo, de início, aprimoramento psíquico com dinamismo muscular, tenta solver problemas alheios muito antes de conseguir o seu próprio equilíbrio! Na realidade, não vai além do lavrador imprevidente que tentasse a semeadura da lavoura com as mãos vazias!
PERGUNTA: — Mas ouvimos queixas de irmãos que viviam acionados, no lar, nos dias de trabalhos mediúnicos costumeiros, e assim que se sentavam à mesa kardecista tudo cessava instantaneamente. Não era justo que o irmão acionado todas as semanas em seu lar tentasse desenvolver noutro meio a faculdade que lhe despertava espontaneamente?
RAMATIS: — Comumente, os guias dos pupilos mentalmente ociosos das coisas espirituais, costumam apelar para os irmãos menores, de fluidos mais espessos e constritivos, a fim de que projetem certa influência aflitiva nos seus guiados. Estes, assim que são alvos das cargas fluídicas incomodativas, põem-se em campo à procura de lenitivo e efetuam a tradicional “via-sacra” pelos consultórios médicos, sem resultados proveitosos. Certo dia, um médium benfeitor se aproxima e após a proverbial consulta, aconselha ao aflito a imediata freqüência ao desenvolvimento mediúnico. O guia, satisfeito de aproximar o seu pupilo negligente do labor espírita, ordena a sua libertação dos fenômenos coercivos e periódicos. Que faz o aprendiz mediúnico? Desaparece das tertúlias evangélicas, retorna à antiga indolência e esquece o “seu caso”, qual “imprevista alucinação nervosa”! Não tarda, pois, a renovação mais intensa e aflitiva das “cargas fluídicas” e a conseqüente reaparição do perseguido no círculo do desenvolvimento mediúnico. Entretanto, evitando, o seu guia, que se repitam as antigas fugas, determina que uma “carga fluídica” semanal, nos dias exatos de trabalho, seja aplicada no seu tutelado, para continuar a incorporar os valores próprios das reuniões espiritistas!
Entretanto, o candidato, inconsciente de suas próprias necessidades íntimas, resolve um desenvolvimento rápido e brilhante, embora engatinhando em espírito…
PERGUNTA: — E como agir no caso de insucesso, devido ao ambiente acanhado onde o “médium” se desenvolve? Suponhamos que os dirigentes e componentes do trabalho não possam auxiliar o progresso mediúnico?
RAMATIS: — A mediunidade, na questão de progresso, é produto do esforço próprio. O “médium” estudioso e pesquisador, que além do serviço caritativo é insaciável à procura de novos conhecimentos, não tarda em superar o ambiente acanhado e servir aos próprios dirigentes ignorantes. No capítulo do Espiritismo, o esforço íntimo para se elevar não dispensa, também, o exercício prático na vida cotidiana. A purificação do sentimento e o esclarecimento da razão são tarefas de “médiuns”, doutrinadores, dirigentes ou adeptos! Desde que fiqueis na dependência uns dos outros, aguardando “correntes afinizadas” ou ambientes favoráveis para progredirdes, dificilmente obtereis o êxito desejado. Não aguardeis que doutrinadores ou adeptos espiritistas resolvam sair de sua ociosidade mental para vos auxiliar. Instruí-vos com as obras fundamentais da codificação espírita e espiritualismo sadio; com as leituras sãs e educativas do patrimônio científico humano. Vigiai vossos olhos e ouvidos e dominai a aspereza de vossa língua; exercitai-vos no silêncio da alma, meditando nos textos lidos e orai, sempre, como se fora, outra vez, a criança ingênua do passado. Amai indistintamente a todos, cooperando com todas as correntes espiritualistas e animando os que pregam a palavra do Cristo! Qualquer que seja a seita adversária aos vossos princípios, ela coopera convosco, se trabalha para tornar mais conhecida a figura de Jesus.
Desde que assim fizerdes, terminareis melhorando o acanhado ambiente de que participais, auxiliando também os que vos podem ensinar.
PERGUNTA: — Notamos que a maioria dos candidatos a “médium” se manifesta ansiosa para receber guias e participar do serviço de caridade espírita.
RAMATIS: — O desenvolvimento mediúnico ou a manifestação de um espírito guia, não despertam no “médium” tesouros de amor que ele, porventura, ainda não tenha revelado no trato cotidiano. O sentimento divino a favor do próximo, que nos faz participar da dor alheia e sofrermos com a desdita humana, não será conseguido mediante esforços de mediunismo ou com assistência privilegiadas. Caridade, já vos lembramos, é emoção estética da alma e principia pela renúncia! É a sensibilidade divina de provocar êxtases no próprio holocausto pelo bem alheio. Revelaram-na incondicionalmente, um Francisco de Assis, um Vicente de Paula, Buda, Gandhi, Paulo de Tarso, apóstolos e cristãos massacrados, e, acima de todos, o Sublime doação do Cordeiro de Deus — o CRISTO!…
Se esse sacrificial sentimento ainda não vos tomou o coração, inútil aguardardes o milagre do guia para fazerdes o Bem! Não o podereis adquirir sob programas pré-determinados, nem agindo em momentos sagrados ou momentos de caridade!
PERGUNTA: — Cremos que a tarefa de desenvolvimento e essa ansiedade de valeres espirituais para servir, hão de preparar candidatos à Caridade?
RAMATIS: — Mas importa, antes, prepararem suas consciências para não se desmentirem a si mesmos. Muitas vezes, seguis de vossos lares em direção aos trabalhos de desenvolvimento, a fim de fazerdes a caridade na doação de fluidos aos sofredores, e, nos vossos trajetos, deixais de cumprir uma dezena de atos simples, afetivos e caridosos! Faltais com a caridade de amizade para o empobrecido e viciado amigo de infância, que vos fitou à distância, receoso, como triste cão surrado; fostes rude para o condutor do veículo coletivo, que vos irritou com o troco ou parada irregular; emitistes vocábulos insultuosos contra o governo local; acusastes inúmeros cidadãos administrativos; revelastes profunda inconformação ante os vagabundos que vos experimentaram a temperatura do coração; criticastes acerbamente os irresponsáveis freqüentadores de “bares” e projetastes vigorosos meios de exclusiva correção ao próximo! Quando determinado veículo quase vos atropelou, a cólera toldou-vos a mente com o lodo das paixões inferiores; protestastes vivamente contra o custo insano da vida, mas não vos referistes aos preços dos cigarros e dos alcoólicos de rótulos dourados, porque estes formam o cortejo de vossos vícios elegantes! Compreendemos a necessidade da crítica sadia, do protesto contra a corrupção administrativa e a perversão social; mas, neste caso, estamos nos referindo aos que partem de seus lares para fazerem a caridade à distancia! Não conseguireis bons fluidos, em horas programadas, se os contaminais com a intolerância, a cólera, a irritação e o desamor de minutos anteriores!
PERGUNTA: — Que nos diz o irmão com referência à necessidade e eficiência dos trabalhos mediúnicos práticos?
RAMATIS: — Reconhecemos a necessidade e eficiência dos mesmos, mas lembramos que a verdadeira sessão mediúnica, simbolicamente se inicia quando levantais de vossos leitos e se encerra quando adormeceis no vosso descanso noturno. Durante esse período encontrais guias na figura de vossos pais, professores, etc., que vos orientam o caminho educativo; protetores na figura de vossos patrões que vos facultam os salários à família; auxiliares que vos indicam o trânsito, que conduzem os veículos de vossas necessidades, que limpam a vossa cidade, cuidam da higiene, da segurança e da vossa saúde. E quanto a encontrardes espíritos atrasados, dezenas movem-se em torno de vós, na figura do mau esposo, do cidadão prevaricador, da mulher dissoluta, do embriagado, do malfeitor ou disseminador de vícios! Entretanto, é preciso que sejais respeitosos para com esses protetores e amorosos para com os “atrasados”, da mesma forma com que vos dirigis nos chamados trabalhos práticos de mediunismo! Não será razoável que useis o “mel do amor” em horas mediúnicas escolhidas e o “fel da irritação” em horas profanas!
PERGUNTA: — As sessões de irradiações produzem o efeito desejado?
RAMATIS: — O fluido vital, a energia prânica dos orientais ou como quereis o magnetismo humano, é forma de energia derivada da energia universal. É encontrado em diversas formas, espalhado por toda a Natureza. Está no ar que o homem respira, no alimento, nos líquidos que bebe. Quando essa provisão de fluidos diminui no ser humano, este enfraquece e suas defesas empobrecem. Assim, podeis verificar que os homens “cheios de vida”, super-ativos, enérgicos, exudando saúde pelos poros da pele, são criaturas abastecidas suficientemente pelo fluido vital, cujo fluido é, na realidade, força terapêutica. Em vossas reuniões ou relações com o mundo, podeis verificar, por vezes, quando sois despojados de fluidos vitais, no fenômeno de vampirismo humano. É a lei da compensação em que o irmão desvitalizado absorve, consciente ou inconscientemente as reservas do próximo.
Conseqüentemente, essa força prânica ou vital é proporcionadora da cura psicofísica, desde que a saibais dirigir pela mente, comandando-a em direção aos pontos que desejais. E o efeito dessas irradiações será tão salutar, quanto seja a vossa capacidade mental e espiritual de projeção vital.
PERGUNTA: — Quais os meios que melhor auxiliariam essas irradiações?
RAMATIS: — O conhecimento exato de como se processa o fenômeno irradiativo, ou seja, a educação da vontade aliada ao desdobramento técnico e gradual na projeção fluídica. A maioria dos componentes de grupos de irradiações, ignoram completamente as rudimentares relações do sistema nervoso, a situação do “plexus” e as operações dinâmicas do passe à distância. Reúnem-se na mais santa ignorância do metabolismo vital e tentam, empiricamente, arremessar fluidos cuja natureza e fontes de origem desconhecem absolutamente. Portadores ainda de uma mente vacilante e instável, fracassariam lamentavelmente, se não fora o concurso vigoroso dos espíritos que lhes extraem, combinam e conduzem os fluidos aos necessitados.
Na realidade, esses discípulos avessos ao estudo metódico dos compêndios que educam a vontade e esclarecem a mente reencarnada, não vão além de “depósitos de fluidos de boa vontade”!
PERGUNTA: — Mas não basta a conduta evangélica para a realização? Cristo não curava com simples imposição de mãos?
RAMATIS: — Deveis convir que um simples atestado de auto-evangelização não comprova a existência do evangelizado e a simples imposição de mãos sobre os enfermos, não vos cria a divindade do Cristo!… Mister que estudeis atentamente o conteúdo sadio de obras erigidas à custa de sacrifícios e pesquisas práticas, que vos darão roteiros seguros no plano da cooperação fluídica, bem antes de vos diplomardes com poderes santificados! Se existem leis científicas que orientam, no seio da terra, a transformação da bolota em gigantesco carvalho, por que no plano das forças sutis dos fluidos, seríeis dispensados do “esforço próprio”?
PERGUNTA: — Não lograremos êxito, embora estejamos possuídos do desejo veemente de auxiliar e socorrer?
RAMATIS: — Não estamos dogmatizando, porém, abrangendo os ângulos improdutivos. Lembramo-vos a necessidade de consciência e equilíbrio do que fazeis, a fim de não vos decepcionardes alhures. Geralmente, enviais fluidos curadores a quilômetros além de vossas reuniões para atender instituições socorristas ou asilos de alienados e vos esqueceis de irradiar para o parente alcoolizado ou para o adversário que vos insultou e vive a alguns metros distante de vossa irradiação. Justo e digno é o vosso desejo veemente de socorrer, porém, o equilíbrio e a consciência evangélica de vossos atos estão em ajustar-vos ao “amai-vos uns aos outros” e ao “amai vossos inimigos como a vós mesmos”! Se escolheis unicamente objetivos simpáticos para vossas irradiações não pomos dúvida em vos dizer: Não lograreis êxito.
PERGUNTA: — A mediunidade sonambúlica é mais favorável ao médium do que a intuitiva?
RAMATIS: — O “médium” não deve desejar a condição inconsciente de simples “muleta” do seu protetor! Quanto mais participar da comunicação, melhor incorporará a bagagem superior dos guias, ou avaliará prudentemente as condições expiativas dos sofredores. A mediunidade intuitiva oferece melhores condições para o “médium” obter a consciência espiritual, na lei de que a “função faz o órgão”.
PERGUNTA: — Comumente os médiuns intuitivos preferem a mediunidade sonambúlica, alegando o perigo do “animismo”.
RAMATIS: — O sonâmbulo completo é raríssimo. As criaturas que melhor apresentam o padrão de sonambulismo absoluto, ainda são os infelizes inquilinos dos asilos psicopatas, destituídos totalmente da razão. O sonambulismo absoluto, que transforma o “médium” em simples entregador mecânico de recados, copiando o carteiro terrestre, não traria vantagens doutrinárias ao seu portador. A ascensão espiritual depende severamente do esforço próprio e da experimentação sadia dos valores evangélicos. A principal preocupação fundamental dos orientadores daqui, ainda é de melhorar o seu próprio “médium”. O intuitivo ou inspirativo, que toma consciência das mensagens que entrega, melhora a sua condição anímica.
PERGUNTA: — No entanto, a maioria dos médiuns afirma que nada se recorda das comunicações recebidas, fazendo-nos crer que são todos sonâmbulos!
RAMATIS: — Repetimos: o “médium” sonâmbulo, incapaz de avaliar um só pensamento do comunicante além de raríssimo destina-se a finalidades científicas e identificações de provas. No conhecido mediunismo de “fenômenos físicos” comumente o “médium” é sonâmbulo, a fim de se prestar passivamente aos técnicos do além. Nos casos de obsessões completas, os espíritos obsessores agem e concretizam seus objetivos vingativos ou ridículos, depois de atuarem anos, seguidamente, até dominarem o sistema nervoso do obsedado. Embora os pensamentos dos comunicantes fluam natural e coerentemente, servindo-se dos vocábulos peculiares dos intérpretes, normalmente os “médiuns” recordam-se do conteúdo das comunicações. Se a maioria alega sonambulismo completo, deve ser com o fito de impressionar os circunstantes, mas se fizerdes pesquisas de ordem psicológica, pouco a pouco conhecereis a realidade intuitiva.
PERGUNTA: — O “médium” intuitivo ou sonambúlico sofre quando retorna a si, após o transe?
RAMATIS: — É óbvio que o medianeiro entre vós e nós, intuitivo ou sonâmbulo, sempre há de sofrer conforme a natureza dos fluidos dos comunicantes, que sobre eles atuarem. Não vemos motivos que justifiquem algumas encenações, por parte de médiuns que receberam entidades elevadas. É razoável a angústia na desincorporação de espíritos sofredores ou agressivos, mas guardamos profundas reservas, se repetem o fenômeno angustioso no intercâmbio com espíritos superiores, cujos fluidos são fundamentalmente sedativos.
PERGUNTA: — E, nesse caso, que sucede?
RAMATÍS: — Deficiência educativa do “médium” que ainda não se integrou convenientemente no processo das comunicações ou ignora os preceitos simples e fundamentais do “Livro dos Médiuns”. No retorno à vigília, o “médium” esclarecido aprende a executar os movimentos estritamente necessários, evitando atitudes, por conta própria, além das necessidades orgânicas para a posse da consciência normal.
PERGUNTA: — Observamos que alguns “médiuns” após a desincorporação dos seus guias ou promotores, reconhecidamente santificados, tombam sobre as mesas arfando em movimentos espasmódicos para retornar à vigília.
RAMATIS: — Só o desconhecimento da realidade mediúnica é que provoca esses fatos. Salvo se os comunicantes são de teor agressivo e habilmente iludem o seu intérprete, afirmando-se portadores de nomes pomposos, tão ao gosto de certos “médiuns”. Reconhecida a natureza elevada de quem se comunica, os espasmos próprios de fluidos de sofredores, provavelmente são efeitos pirotécnicos para impressionar o público. Pode tratar-se duma demonstração de “narcisismo” em que a ingênua vaidade do sensitivo simula um sofrimento que desperte a emoção piedosa dos presentes a seu respeito. O “médium” equilibrado e infenso aos superficialismos e lisonjas, tem um senso profundo de cumprir o seu deveir!
PERGUNTA: — Aliás, em alguns casos, vimos o comunicante, de natureza elevada, solicitar preces aos presentes a fim de seu “médium” retornar sem sofrimento.
RAMATIS: — A contradição é visível, pois o comunicante de natureza elevada bem reconhece a sua ação sedativa no “médium” e não faria tal solicitação. Percebe-se ainda, a intervenção do sensitivo, que poderia evitar esses ridículos paradoxais, na leitura sensata do “Livro dos Médiuns”. Naturalmente os freqüentadores que endossam essas incoerências necessitam, também, de se aprimorar na, obras fundamentais do Espiritismo.
PERGUNTA: — É razoável certo costume, comum em alguns “guias”, que lisonjeiam seus intérpretes e lhes ressaltam as tarefas mediúnicas, comparando-as com missões de sacrifícios?
RAMATIS: — Os protetores ou guias filiados às Instituições de Comunicações com a Terra, que assumiram a responsabilidade de velar e orientar determinados pupilos em tarefas mediúnicas, são advertidos para não exaltar seus instrumentos medianeiros na crosta. Evitam, sistematicamente, reflorescer o senso pessoal do sensitivo e dar-lhe aquecimento às veleidades passadas, temerosos de contribuir para nova casta de eleitos em pedestais de vento! Bastam-vos já os inúmeros representantes das sombras que vos espreitam, continuamente, para conduzir-vos ao ridículo, ao fanatismo, às falsas glórias ou à admiração perniciosa. Comumente é o “médium” quem faz seu próprio elogio.
PERGUNTA: — Em muitos trabalhos espiritistas, encontramos comunicações de boa índole e de sentido construtivo, porém, estranhamos certas “chaves” repetidas pelos comunicantes, em linguagem exótica e típica doutras raças.
RAMATIS: — É óbvio que nas comunicações tradicionais, de amigos conjugados definitivamente aos vossos esforços doutrinários, evidencia-se o uso de determinada expressão “chave”, como identificação preliminar do comunicante. Essas chaves predispõem os pensamentos dos presentes para o fortalecimento dos laços afetivos do espírito familiar. Como exemplo, vos damos a nossa preferência pela chave “Paz e Amor”, que sempre inicia nossa mensagem. Porém, adotamos sempre a decisão de não praticarmos exotismos desnecessários e vos damos o conteúdo, “Paz e Amor”, em vossa língua peculiar.
PERGUNTA: — E no caso dessas chaves serem dadas em sânscrito, hebraico, tupi, egípcio, bantu, árabe ou qualquer dialeto estranho, repetidas irritantemente?
RAMATÍS: — Sabeis que um “louvado seja Deus” em qualquer dialeto ou idioma estranho à vossa raça, tem a mesma força emotiva se for mentalizada com sincera convicção. No entanto, se o “mediúm” é intuitivo há de receber essas chaves na língua própria, como o resto da comunicação. No caso do intérprete ser poliglota e sonâmbulo, o contendo será todo na língua do espírito comunicante, isto é, as chaves e o restante da comunicação. O contraditório é a “chave” numa língua e o resto da comunicação na língua pátria do médium! Nesse caso, foi decorada a “chave” pelo médium que assim tenta impressionar a assistência, sem poder reproduzir toda a comunicação na língua chave que usa. Trata-se de mais uma extravagância no campo do mediunismo e de efeito dramático. Ser-vos-ia estranho que déssemos a nossa “chave” Paz e Amor, em indu-chinês, idioma que manejamos com facilidade, e não pudéssemos dar-vos o restante da comunicação na mesma línguas!
PERGUNTA: — Que dizeis dessas comunicações que se vulgarizam em trabalhos atribuídos a espíritos demasiadamente destacados em nosso mundo? Por exemplo: Crisna, Moisés, Hermes Trismegisto, Confúcio, Buda, Paulo de Tarso, Ghandi, Zoroastro, João Batista, Sócrates, Maomé, etc.?
RAMATÍS: — Não é impossível a comunicação e nem todas as personalidades consagradas pela vossa história terrena, gozam da mesma plenitude nas esferas de além-túmulo. Mas advertimo-vos – São bastante incomuns! Se o general, em vosso mundo, não substitui o soldado na tarefa do recado singelo, por que espírito diretores de raças ou povos, devem comunicar-vos aquilo que protetores, afins ao vosso nível, podem dizer-vos com mais familiaridade? As entidades que convivem convosco, portadoras das mesmas expressões idiossincrásicas de vossos meios, estão mais aptas para vos advertir ou orientar no plano das necessidades espirituais. Esses espíritos consagrados, que passam pelo vosso mundo em atividades invulgares, não podem empregar seu precioso tempo na solução de assuntos corriqueiros ou individuais.
A lei que rege os movimentos de ascensão espiritual pesa na economia do Cosmo os dispêndios excessivos em intercâmbios espirituais. Se considerais ilógica a necessidade de Einstein substituir modesto professor para ensinar os princípios de aritmética, por que achareis sensato que Maomé, Ghandi ou Zoroastro se fatiguem em apelos para que desenvolvais as virtudes primárias de vossos espíritos? Os guias espirituais, de influenciação coletiva no progresso de raças e povos, continuam, no Além, inspirando as multidões de que se responsabilizaram na Terra.
PERGUNTA: — Podemos vislumbrar, então, a intervenção inconsciente ou voluntária do médium?
RAMATIS: — Muitos medianeiros exultam afirmando que receberam um Sócrates ou Confúcio, esquecidos de que também esses espíritos podem se ter reencarnado novamente, substituindo às formas primitivas por outras mais compatíveis ao progresso incessante. Constantemente, apreciamos comunicações de entidades que não mais existem na forma primitiva. Nas assembléias periódicas efetuadas no Espaço, muitos protetores singelos queixam-se de seus “médiuns”; recebem seus pensamentos mas rejeitam os nomes simples de um “João”, “José” ou um “Amigo”, para os substituir por um nome pomposo ou invulgar, que deslumbre os assistentes. Certas comunicações triviais, ao gosto ocidental, são atribuídas jubilosamente a consagrados líderes orientais, enquanto algumas mensagens de caráter pessoal, familiar, conferem-se a insignes condutores de raças. É razoável e humana essa tendência mediúnica, mas o médium deve se compenetrar que o bom conteúdo dispensa ornamentos no vasilhame!
PERGUNTA: — Entretanto, irmão Ramatís, nas obras de Allan Kardec existem várias comunicações atribuídas a esses luminares do Senhor! Devemos guardar reservas no assunto?
RAMATÍS: — Allan Kardec estabeleceu as linhas fundamentais do Espiritismo, evocando todo o seu conhecimento esotérico do passado, onde através dos símbolos materiais ele investigou o espírito que se oculta na forma. Examinou o Politeísmo na Lemúria, os gênios da Atlântida e participou nos pródromos da raça adâmica; conheceu o Hermetismo no Egito, o Bramanismo na índia e veio acompanhando de perto os surtos evolutivos do Cristianismo. Chegado o momento psicológico em que aceitou a incumbência de expor às massas, de modo acessível, suas aquisições espirituais, recebeu o apoio e a presença dos mentores de credos, doutrinas e raças humanas. As comunicações mediúnicas que lhe beneficiam a doutrina espírita, em suas obras fundamentais, são diretrizes definitivas para a ascensão coletiva. Não podem servir de motivos para labores locais porque endossam, com o selo de ouro do espírito superior, o trabalho valioso de Kardec.
PERGUNTA: — E quanto ao problema angustioso de todo “médium” intuitivo, ou seja, o animismo?
RAMATIS: — Naturalmente não pretendemos endossar os abusos de imaginação, nem justificar os exotismos dos medianeiros presunçosos ou interesseiros. Reconhecemos a sutil associação de idéias, que mais facilmente se acentua no “médium” em recolhimento ou em transe, mas não vos aconselhamos o recuo à disciplina evolutiva da mediunidade, porque sofreis a angústia do animismo e vos perturbaria a transparência cristalina das comunicações. Se o “virtuosismo” do música necessitou da singela escala musical “do-re-mi”; a eloquência do orador precisou da base do “a-b-c” e o estro maravilhoso do poeta tem sua origem no balbuciar da infância, o êxito mediúnico também se firma nos percalços do animismo.
PERGUNTA: — O irmão F. M., aqui presente, “médium” há vários anos, ainda alimenta a dúvida, após as comunicações, crente de que o conteúdo é todo seu!
RAMATIS: — O médium não é bengala insensível e de manejo mecânico! Trata-se de organização viva com vocabulário e cabedal específico, com o dever de ajustar frases e associar imagens que melhor identifiquem o pensamento do comunicante. Operamos, comumente, no próprio espírito do medianeiro e agimos, pelo perispírito, no seu sistema nervoso. Deste modo, ficamos circunscritos quase que totalmente à vontade e às diretrizes intelectuais do médium, que recebe a nossa influência mas não se afasta de nós. Participa e observa, conscientemente, em maior ou menor dose, o conteúdo dos nossos pensamentos. Assemelha-se a um mensageiro terrestre, que fica a par da mensagem verbal a ser transmitida e que na entrega do recado acrescenta palavras sinônimas das que ouviu. Na função de intérpretes de pensamentos alheios, tanto o mensageiro quanto o “médium” influem com seu temperamento, dando textos lacônicos ou prolixos. Eis porque o intuitivo não fica absolutamente alheio ao que transmite.
PERGUNTA: — Qual a vossa sugestão para o domínio anímico?
RAMATIS: — Não vos aconselhamos que sufoqueis o fenômeno anímico, pois dificultaríeis consideravelmente, vossas tarefas mediúnicas. Os guias não objetivam a criação de autômatos-mediúnicos, tipos de robôs acionáveis à distância! O mediunismo, como meio para fins excelsos, não dispensa a educação e a aquisição da consciência espiritual por parte do medianeiro. O guia encarregado de proteger e servir-se de determinado sensitivo, responde pela grave incumbência de desenvolver as qualidades morais e espirituais de seu intérprete. Inúmeras vezes é mais importante o progresso intelectual e evangélico do “médium”, do que realmente a sua faculdade comunicadora. Normalmente o próprio guia protela revelações do Além, para despertar primeiramente as revelações evangélicas no seu pupilo. O sensitivo é conjunto vivo de responsabilidade pessoal, que deverá caminhar pelos seus próprios pés. O que preferimos em nossos “médiuns” ainda é o serviço cristão contínuo, o amor pelo estudo superior e a dedicação na pesquisa espiritual, mesmo que sejam profundamente anímicos. Que nos vale o sensitivo sonambúlico na faculdade mediúnica, se é profundamente inconsciente nos seus deveres pessoais?
PERGUNTA: — Por que há variações tão profundas nas comunicações em que o “médium”, por vezes, revela-se eloqüente, entusiasta e noutras vezes parece perder o fio da comunicação?
RAMATIS: — Quando coincidem idéias, índole, pensamentos ou conhecimentos do “médium” com o Guia, recrudesce o entusiasmo do sensitivo e se torna eloqüente por manusear assunto de que tem convicção. Assim que se processam desajustes filosóficos ou conhecimentos estranhos, formam-se hiatos previstos na mensagem.
PERGUNTA: — É comum os espíritos tentarem vencer o animismo?
RAMATIS: — Existem médiuns especializados para trabalhos de conversões, identificações e capazes de respostas insofismáveis e seguras. Mas a generalidade é intuitiva e não escapa ao animismo mais ou menos intenso. Não nos preocupa eliminar o animismo dos nossos intérpretes, porém, inspirá-los a se melhorarem, de tal modo que, no futuro, possamos endossar como de nossa autoria os seus produtos anímicos, mas de qualidade superior.
PERGUNTA: — Por que o “médium” se sente sozinho, às vezes, verificando que não recebe mais o pensamento exterior sentindo-se isolado do espírito comunicante?
RAMATIS: — Se o “médium” não é bengala viva, mas participante da comunicação espiritual, um dos objetivos essenciais do seu guia inteligente, é proporcionar oportunidades para o seu intérprete dar algo de seu. Compete-lhe, pois, ensinar seu pupilo a servir sensatamente, encorajando-o a desenvolver seus recursos intelectuais, a melhorar as concepções filosóficas, ou admitir conceitos de raciocínios superiores. Dai a intermitência comum, mesmo em “médiuns” bem assistidos e bem intencionados, em que determinados espíritos deixam seus intermediários a falar sozinhos, como dizeis. Na realidade, as entidades comunicantes deixam lacunas a serem preenchidas pelo “médium”, que se vê obrigado a unir os elos vazios da comunicação, provando até que ponto pode continuar a mensagem sem distorcê-la nem deturpá-la!
PERGUNTA: — Nesses momentos age o puro animismo do “médium”?
RAMATÍS: — Concepcionemos melhor, meus irmãos: nesses momentos evidencia-se a bagagem intelectual e o teor moral do sensitivo. Este, provisoriamente, é entregue às suas próprias concepções, devendo sozinho preencher os hiatos propositais do seu guia na comunicação. Demonstrará, assim, o que já assimilou de suas leituras e qual o índice filosóficos que possui, favorecendo os prognósticos futuros no quadro da sua aprendizagem espiritual. Encorajado, pouco a pouco não tarda a esposar pessoalmente, em público, o conteúdo espírita e evangélico que assimilou do seu orientador espiritual. E à medida que o “médium” estuda e se desenvolve no serviço cristão, cresce a confiança e a esperança de seu guia, que também lhe aumenta as responsabilidades e o mérito nas comunicações.
PERGUNTA: — É possível um “médium” dar sozinho a comunicação convicto de que é seu guia, que o faz?
RAMATIS: — Em geral alguns o fazem, mas não vos precipiteis em acusá-los de exclusivamente anímicos, nem os catalogueis de mistificadores destituídos de mediunidade. Muitos são eficientes medianeiros do Além, tendo já ultrapassado a fase da angústia dos primeiros passos. Certas vezes, o guia envolve seu “médium” com fluidos identificadores e associa-lhes as primeiras idéias ao tema escolhido para a tese da noite. Verificando que a comunicação prossegue legível, afasta-se do intermediário, embora sem livrá-lo de sua influência, e aprecia-lhe a preleção provocado. Encerrada a oração, quase que exclusivamente tecida pelo “médium”, seu guia a endossa com satisfação, firmando-a com sua personalidade conhecida. Fruto de trabalhos exaustivos de ambos, guia e médium, essa operação em conjunto oferece a oportunidade de aprimorar o sensitivo e esclarecer os presentes. O protetor sempre se rejubila quando se certifica de que o seu pupilo manifesta vontade própria e esclarecedora em vez de simples robô, destinado a comunicações mecânicas. Assemelha-se, o esforço do guia, para a emancipação do seu “médium”, ao labor que fazeis com vossos filhos, erguendo-os da posição de “engatinhamento” para a caminhada por seus próprios pés!
PERGUNTA: — O estudo e o aprimoramento moral do “médium” intuitiva, portanto, é que proporcionam essa emancipação que descreveis?
RAMATIS: — “A mediunidade tem sua evolução e sua rota”, afirmou-vos determinada entidade deste lado, por um dos melhores sensitivos de vosso país. Realmente, a mediunidade, sagrado objetivo à consciência espiritual, exige decidida aplicação para seu progresso definitivo. Não se resume em responsabilidade nas exclusivas horas de trabalho doutrinário, em ambientes iniciáticos, mas exige de seu portador um intercâmbio absoluto com o espírito messiânico do Cristo! Preconiza a renúncia e a abdicação do “médium” aos proverbiais caprichos e fazeres comuns da vida, exigindo permanente contato com as fontes sadias do aprimoramento espiritual. O endosso dos protetores, na hora do “falar sozinho”, é concedido somente aos “médiuns” que se emancipam no trato evangélico e no estudo perseverante do Espiritualismo. Não lhes cabe firmar os animismos de lugares comuns, destituídos da força indiscutível das coisas sensatas e elevadas!
PERGUNTA: — O irmão M. R., aqui presente, queixa-se de que em suas comunicações mediúnicas, influem, às vezes, leituras e assuntos de palestras cotidianas mantidas entre confrades. Não duvida do fenômeno incorporação, mas lamenta não poder vencer essa intervenção anímica.
RAMATIS: — O que considerais prejudicial às comunicações por vosso intermédio, significa força coesiva e ajuste necessário para segurança da mensagem mediúnica. Desconheceis a tarefa delicadíssima dos mentores desencarnados, que obtêm a segurança de certas comunicações, desenvolvendo o tema fundamental durante a vigília do “médium” escolhido. Imperceptivelmente, sois trabalhados durante o dia, para o êxito doutrinário ou a necessidade de esclarecimentos a determinados freqüentadores. Certas leituras, contatos pessoais, influências e até vicissitudes que coincidem com a tese da noite, podem ser partes dum planejamento antecipado pelo espírito comunicante. Reunís, assim, sob a inspiração do protetor, os elementos essenciais para que se efetue uma comunicação coerente e equilibrada, em data aprazada. O comunicante limita-se, nesses casos, a unir as idéias e conhecimentos dispersos e que foram evocados à luz do dia, dando-lhes o cunho pessoal na mensagem.
PERGUNTA: — Esse processo é sistemático e geral?
RAMATIS: — É conforme a necessidade dos futuros ouvintes. Os guias familiares de certos freqüentadores de sessões práticas, reúnem-se e deliberam uma ‘tese’ de esclarecimento coletivo para seus pupilos. Escolhido o “médium” peculiar ao local de trabalho, despertam-lhe motivos e situações que mais se ajustem às necessidades morais e espirituais dos ouvintes objetivados. Simbolicamente, o “médium” visado para o trabalho já se encontra em ligação com o Astral em sua própria vigília, incorporando assuntos, idéias e leituras que convergem habilmente para um só objetivo. Não se trata dum processo sistemático e geral, mas de acontecimentos esparsos, indeterminados, e, também, conforme o “médium” disponível no momento. É óbvio que ao intermediário culto, evangelizado, indene de fanatismos, dogmas ou idéias preconcebidas, torna-se desnecessária essa tarefa preventiva. Ele corresponde, satisfatoriamente, às evocações procedidas na hora da comunicação, e atende bem aos projetos estabelecidos. Daí nossa grande advertência de que aproveiteis vossas horas no aprimoramento definitivo de vossos espíritos. Emancipai-vos no trato evangélico, para vos transformardes em excelentes veículos, translúcidos às nossas idéias!
PERGUNTA: — Certos doutrinadores afirmam que os “médiuns” em desenvolvimento, que ainda não receberam seus guias, estão com as caras sujas, porque só recebem sofredores.
RAMATIS: — As comunicações de espíritos sofredores são assuntos locais, intermitentes, e vigiadas pelos guias dos trabalhos sensatos. Mais perigosas para vossas auras são as fascinações cotidianas, produzidas por vossos pensamentos inferiores em que atraís entidades nocivas aos vossos organismos. O sofredor causa-vos “mal-estar” na hora da comunicação periódica nos vossos agrupamentos iniciáticos, mas as infiltrações pervertidas que penetram vossas mentes, ante o descuido do “orai e vigiai”, criam graves sombras em vossas auras! A caridade prestada aos necessitados do Além, na oferta de fluidos animalizados não vos impede de receberdes os espíritos bons. Assim como o pântano sofre suas próprias emanações repugnantes, sofreis o clima deletério dos vossos pensamentos indecorosos. Jesus esteve conosco 33 anos em corpo físico, impregnando-se com nossas mazelas psíquicas, e, no entanto, sempre pôde receber o conteúdo do Espírito Divino!
PERGUNTA: — E esse tipo de comunicações soturnas, fúnebres, de espíritos luminosos, que se afirmam “baixando dos pés de Deus”, mas deixam-nos constrangidos pelo aspecto lúgubre com que se manifestam?
RAMATIS: — Confundis o que é suposição mental do “médium” com a verdadeira natureza dos comunicantes. A maioria dos “médiuns” vai a extremos censuráveis; jugam-nos fantasmas melodramáticos destituídos de fisionomia humana, ou então convertem-nos em deuses que amaldiçoam todas as volubilidades do mundo! Na realidade, recém-chegados da Terra, somos ainda as criaturas afeitas ao humorismo sadio, à graça ingênua dos intercâmbios afetivos, ao gosto acentuado pelo que é festivo. A morte não nos transfigura em arcanjos liriais de última hora nem nos extingue as preferências boas ou más! É certo que deveis distinguir os que pervertem no crime os fundamentos puros da vida verdadeira do espírito; mas é preciso que reconheçais o desejo imenso que ainda alimentamos para a alegria sã e elevada! Futuramente vossas reuniões espiritistas, de mediunismo evangélico, serão festividades isentas dos recitativos compungidos de além túmulo!… Deus é Luz e Alegria; Bondade e Afeição!… Em qualquer situação da vida, podereis nutrir-vos com esses princípios básicos da DIVINDADE!
A paz de Jesus fique convosco.
Espírito Ramatís, responde as perguntas do médium Hercílio Maes.

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